segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Prefácio.



Ceny estava em seu quarto quando ouviu uma pedra atingir a porta dupla que da passagem à sacada.
Tomou um susto.
Levantou-se e fora abrir as cortinas que ocultavam a porta.
Em seguida sua mãe batera em seu quarto. Uma senhora esguia, de cabelos loiros grisalhos e vestindo uma comprida camisola branca.
- Ceny, ta tudo bem?
- Sim mamãe, está tudo ótimo. – disse a jovem, sobressaltada, torcendo para que a mãe não adentrasse o quarto.
Alguns fachos de luz fraca irrompiam pelas brechas da porta da sacada.
A mãe do outro lado da porta estranhara por um momento. Mesmo assim nunca tirara a privacidade da filha, não seria agora que invadiria o quarto da garota.
- Está certo filha, boa noite então.
- Boa noite mamãe. – respondera a menina enquanto deslizava o trinco de cima, destrancando a porta dupla, comedidamente, para que sua mãe não percebesse e voltasse.
Ceny viu a sombra de sua mãe deixar a soleira da porta de entrada. Depois abrira os outros dois trincos, o do meio e o inferior.
Abrira a porta no mesmo instante que fora atingida por uma pedra na testa.
Gemeu sem exageros. Pensando se as estrelas que via eram alucinações por causa da dor, ou se elas pertenciam àquele céu.
- Droga! Desculpe Ceny. – sussurrou outra jovem de cabelos negros que esperava Ceny lá embaixo.
- Sem problema, espera só um pouco. – respondeu a jovem na sacada, afagando a testa numa careta querendo diminuir as pontadas. Voltara ao quarto e tirara debaixo da cama vários lençóis parecendo um varal de nós. Pegara a ponta de um lençol vermelho e o amarrara no para-peito da sacada de madeira. Quando viu que estava firme, jogara o resto dos lençóis pra fora com a outra ponta quase alcançando o chão.
Pulara o para-peito, agarrada no lençol, com cuidado para não se machucar. Deslizara com paradas rápidas em cada nó.
- Cinto muito se te machuquei e fiz muito barulho. – disse a garota ajudando Ceny a chegar ao chão com caução.
- Pelo menos não me arrancou um olho, e ainda bem que minha porta não é de vidro. – respondeu sorrindo. – Não tinha outro jeito para chamar a atenção? Vamos logo antes que eu me encrenque.
- Certo. Vamos que já ta na hora. – disse a jovem de cabelos negros, soltos até os ombros enquanto segurava a mão da amiga, conduzindo-a consigo até o portão da cidade.
- Tilla, ainda acho que isso não é uma boa idéia. – fala Ceny sendo guiada pela amiga enquanto seus cabelos loiros oscilavam presos numa trança só.
- Quando eu te mostrar o que tenho visto ultimamente, você vai querer fazer isso sempre. – disse enquanto atravessavam a praça com um enorme chafariz de três metros de altura onde quatro ursos pálidos jorravam águas em abundancia por suas bocas. Cada urso estava com o focinho apontado para cada um dos pontos cardeais.
- Estou indo com você por que estou curiosa, mas independente do que irei ver, não significa que fugirei todas as noites.
- Acredite, vai mudar de idéia.
Correram bastante sob a luz das estrelas. Estavam descalças, pois sabiam que se tivesse de botas ou sapatos, fariam barulho sobre o chão de paralelepípedos alourados. Usavam as sombras das casas para se esconderem. Quando viam que a barra estava limpa, então avançavam mais um pouco.
Chegaram próximas as imensas grades do portão que guardava a cidade Sonar. Esconderam-se atrás de uma arvore.
- Como pretende fugir Tilla? Já deve ser quase meia noite e nada nem ninguém entra ou sai da cidade após as dez horas da noite.
- Eu sei Ceny, mas o que você não sabe é que um senhor, ex-soldado do Rei, chega todos os dias, - menos aos domingos, à meia noite para render o soldado dorminhoco. – disse Tilla, apontando para o guarda do Rei sentado num banco de madeira no patamar de uma escada de pedra apensa ao grande muro. – Ta vendo? – continuara a jovem, agora olhava para o portão, o qual estava sendo aberto por um senhor encapuzado. O mesmo passara portão adentro, deixando-o apenas encostado para verificar o de sempre, o guarda dormindo no alto da escada de pedra.
- Como o Rei confia nesses caras? – perguntou-se a si mesmo o velho, olhando para o alto e chegando mais perto, perto o suficiente para ouvir os roncos do jovem atalaia.
As meninas aproveitaram para sair cautelosamente enquanto o velho ascendia um cachimbo.
Agora a noite de Sonar tinha duas jovens de dezesseis anos se aventurando pelos campos. Rumavam para o oeste, para a praia.
- Como sabia que ele daria essa brecha? – indagara Ceny. Ainda correndo.
- Às vezes ele dá.
- E quando não dá?
- Então tenho que voltar pra casa.
- há ta... podemos nos acalmar agora, ele não pode mais nos ver.
- Certo, vamos andando.
A brisa atingia seus semblantes claros iluminados pela minguante que sorria lá no alto.
Após um tempo caminhando, as jovens já estavam com seus pés sorvendo na areia da praia enquanto mastigavam algo que conseguiram no meio do caminho.
- Vamos nos sentar aqui. – disse Tilla afundando o quadril no aclive de areia.
- Que bom que passamos pelas videiras, já tava morrendo de fome. – falava Ceny, lançando pra dentro da boca uma fruta que mais parecia uma bolinha de gude.
Tilla sorriu sem expor os dentes. E assentiu com a boca cheia.
- Me diga uma coisa Tilla...
A garota de cabelos negros ficou atenta a amiga.
- Porque um ex-soldado, ainda trabalha para o Rei? E como você sabe de tudo isso?
- Ele se chama Erold, e é meu tio. Ele só tem a mim e a minha mãe. E para não ficar sozinho, ele prefere estar sempre agradando ao Rei... sabe como é... longa vida ao Rei. São uns fanáticos. – debochou ela.
Tilla jogara uma fruta para o alto e a encestara na goela, quase se engasgando. As duas riram.
- Ih... olha lá. – O espetáculo vai começar. – disse Tilla. Apontava para um azul iluminado do horizonte, que começara a ficar infestado de filhotes de Dragão.
- Pelos Deuses... mas que coisa mais linda.
- Não disse que valeria a pena. – dizia Tilla com um tênue sorriso estampado em seu rosto.
Alguns filhotes subiam para rodopiarem em frente à lua. Depois se turvavam nas nuvens envolvidas no ébano. O cenário era encantador e o barulho que faziam ao longe, um agudo que as jovens ali presentes não identificariam. Seus cantos ecoavam aurícula adentro docilmente como uma sinfonia.
- Da para esquecer a vida, e, ficar assistindo isso aqui pra sempre. – disse Ceny. Estava estupefata.
As jovens ficaram ali na orla branca, admirando a natureza enquanto mastigavam seus petiscos.
- Ceny! Olha lá! – empolgou-se a amiga. Apontava para o horizonte.
- Que foi Tilla, aonde?
- Lá. – aproximou-se da amiga ainda apontando. – Vem em nossa direção. – se pôs de pé. – Acho que hoje vai ser o dia em que eu estava esperando.
Ceny não entendera.
- O dia em que vou ver um filhote de Dragão de perto!
Tilla estava muito empolgada. Fora banhar seus pés no raso do mar ocidental, esperando pelo grande momento.
O pequeno Dragão se aproximava. Era bem rápido para um filhote.
Os olhos de Tilla estavam incandescentes.
Ceny apenas sorria. Mas logo tirara o sorriso do rosto.
A imagem do filhote aumentava cada vez mais. Ficava maior a cada batida de asas cortando a brisa.
Tilla dera alguns passos para trás.
Ceny começara a soltar gritos estridentes.
- Tilla sai logo daí! Não é um filhote!
Um gigantesco Dragão negro dera um rasante fazendo com que Tilla se jogasse na areia se protegendo do ataque.
Os gritos de sua amiga loira ecoavam pela praia.
- Ceny...! – assustou-se Tilla ao ver a amiga sendo levada por alguém de longas vestes negras, montado no Dragão protegido com uma armadura de prata, a qual reluzia da cabeça a calda.
Tilla refutava a ida da amiga. Repetia o nome da jovem varias vezes. Mas não adiantava. Seja lá quem fosse, convergia para o horizonte levando sua melhor amiga.
Tilla voltara correndo apavorada para os portões de Sonar.
Erold reconhecia a sobrinha de longe. Logo descera as escadas de pedra para abrir o portão e acolhe-la.
Não demorou muito e a jovem já estava nos braços do tio aos prantos.
- O que foi pequena... o que aconteceu? – preocupou-se o velho. Tinha a voz meio rouca.
- Tio Erold! Tio Erold! A Ceny...
- O que tem ela minha filha? E o que faz lá fora. – o velho segurava a sobrinha pelos ombros.
- Levaram Ceny, tio Erold... levaram Ceny...
Erold ficara perplexo enquanto afagava a sobrinha sob o céu estrelado.

3 comentários:

  1. Muito interessante, to curioso pra saber o que aconteceu com a Ceny, e a tilia também, espero pelo próximo post... só uma dúvida, esse prefácio é continuação do athor, ou é o incio de uma outra história ?

    parabéns

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  2. Obrigado por estár acompanhando And.
    E com relação a sua dúvida... sim, o prefácio é continuação de Athór.

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  3. Pra mim que amo aventuras já esta ótimo,minha unica reprovação a vc sera se demorar muito pra postar o restante.Bjos,Sucesso pois tem Futuro!

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