domingo, 21 de março de 2010

CAPÍTULO 8 - Triste Noticia.






Vesseu e Herutam passaram pelos primeiros jequitibás ao adentrarem na floresta. Cavalgavam rápido saltando por pedras arenosas e passando por aclives barrentos. Desviavam-se dos arbúsculos e de enormes raízes ariscas.
- Temos que ir mais depressa! – disse Herutam.
- Sim. Mas vai ser difícil... Com todos esses obstáculos. – fala Vesseu após saltar por cima de uma das raízes no caminho.
- Uooou!... – disseram eles puxando as rédeas para si mesmos, fazendo com que os tordilhos parassem ao se depararem com Mensageiro das Almas.
- O que pensam que estão fazendo!? – estrilara espírito.
- Não queríamos perturbar ninguém. – enfatizara o plácido Vesseu em escusar.
- Não queriam! Mas perturbaram! – o fantasma em decadência pousara em solo arenoso.
- Viu se três magos... Desconhecidos aos seus olhos passaram por aqui? - perguntara Herutam ao indagar.
- Além de todo esse alvoroço... Ainda querem respostas. – Mensageiro das Almas ainda continuava com uma cara não muito boa. – Sim. Eu os vi. – Também chegaram à baderna igual a vocês. – Mas para que toda essa pressa? Sabem que os espíritos não gostam nem um pouco.
- Perdoe-nos Kerkisternio. – desculpou-se Herutam enquanto pronunciava o verdadeiro nome de Mensageiro das Almas.
- Tudo bem. Falarei para os outros espíritos que eram apenas alguns animais. – disse o espírito querendo se esquecer do ocorrido e pensando numa desculpa para dar aos outros espíritos da floresta. Vesseu e Herutam agradeceram por isso. - Mas na verdade, o que querem senhores Vesseu e Herutam?
- Precisamos encontrar os outros que estão à procura dos amuletos de Athór. – disse Vesseu.
- Ouvi falar sobre tais amuletos... E porque precisam encontrá-los? – Os testes são para serem feitos sozinhos.
- Meu pai acaba de morrer. – disse Herutam em triste semblante.
- O Ministro Harunem está morto!? – espantara-se Kerk.
– Precisamos encontrá-los e dizer que eles correm perigos, pois a outros interessados nos amuletos. – dizia Vesseu.
- Mas como ele morreu?
- Não sabemos. – continuava Herutam. – Só sabemos que ele teve uma visita desconhecida. Com certeza ele não morrera de velhice.
- Chegara a falecer antes que quisesse nos dizer mais alguma coisa. – continuara Vesseu
- Eu ainda não soube da morte dele porque seu espírito só habitará na floresta após sete dias em tumulo fechado. – explicou Mensageiro das Almas.
- Não podemos perder mais tempo. - disse Herutam.
- Eu sei o caminho que eles pegaram. - disse o espírito. – A essa altura devem estar próximos ao pequeno lago dos cisnes azuis. – Conheço diversos atalhos para chegarmos mais rápido. – continuara ele, pois o alambre espírito conhecia cada canto da floresta em que morava.
Mensageiro das Almas começara a assoviar. Um belo espírito de um cavalo de cerda branca surge em decadência dentre as árvores da floresta flutuando em cavalgadas. O tordilho em transparência parara ao lado de Mensageiro das Almas que montou. – Vamos logo, no caminho vocês me contam o resto. – disse ele após bater com os calcanhares na barriga do animal que disparara. Vesseu e Herutam o seguiram.



Guimans ainda estava tristonho. Ortí e Hannced já tinham tentado de tudo, até que o mago glutão teve a idéia de entoar:


De olho nos belos animais
Floresta adentra aclive abaixo.
Passando em frente a um lago...
E não a um riacho.

Folhas caindo
Cisnes nos ares.
Totims sorrindo...
Nos altos das árvores.

Que linda paisagem
Nunca foi visto algo igual.
Muitas flores e verdes em montes...
Neste lugar descomunal.

Mas que lindo este lugar
Muito bom para viver
Ótimo para se morar
Num crepúsculo ao arrefecer
Cavalgando até Sonar
Até o sol nascer...
Continuando a cantar
Até amanhecer.


Ortí estava muito alegre enquanto cantava. O mago glutão se assusta enquanto seguia com seu tordilho por debaixo de alguns galhos, até que um Totim, de cabeça para baixo pendurado num dos galhos ali perto, pegara o chapéu pontudo do mago fazendo-o derrubar a caneca na carroça graças ao susto que levara.
Guimans solta um sorriso de canto de boca, aos poucos o sorriso ia se alargando até que o mago de cabelos arrepiados começara a dar altas gargalhadas com a situação em que o mago Ortí ficara, e começara a cantar junto:

De olho nos belos animais
Floresta adentra aclive abaixo.
Passando em frente a um lago...
E não a um riacho. Hahahaha...

Ortí começara a ficar irritado. Não tinha gostado nem um pouco daquele Totim ter pegado seu chapéu. O mago ficara de pé na carroça e esticava os braços querendo pegar o animal para dar-lhe uma lição e poder recuperar seu chapéu. Mas infelizmente -, para a alegria de Guimans – o mago cai sentado na carroça.
Guimans não parava com suas altas gargalhadas.
O Totim saltava de galho em galho subindo cada vez mais.
- Acha isso engraçado? – perguntara Ortí para Guimans, pois o mesmo não parava de rir.
Hannced fingiu estar com pigarro, e forçou um barulho saindo da garganta para chamar a atenção de Ortí. O mago olha para Hannced que anuía com a cabeça após uma piscadela. Ortí entendeu o que Hannced queria lhe dizer, e parara de implicar com Guimans que a pouco estava triste, e agora se alegrava. Ortí continuou a cantar:

Totim maldito muito abusado
Acha-se muito esperto brincando
Pegar-te-ei macaco dos galhos...
Seu chato e folgado
Recuperarei meu chapéu
Depois te lançarei num tonel!

Ortí via a alegria estampada no semblante de Guimans que soltava uma gargalhada atrás de outra sem cessar. Depois tampou a boca com uma das mãos. Não queria ser advertido novamente por Mensageiro das Almas.
O Totim lançara de volta o chapéu de Ortí para o próprio. O chapéu vinha na direção do mago sem que o mesmo o visse. O chapéu vindo dos ares chega à cabeça do mago glutão, e, rodopiara até parar e cobrir um pouco os olhos do mago.
Guimans ria cada vez mais. – Mas que pontaria hein? – dissera ele.
Ortí não estava mais ligando para as risadas de Guimans. Estava muito contente ao ver o sorriso estampado no rosto do mago de cabelo moicano.
Alguns minutos se passaram junto com a trilha. O mais jovem dos magos fazia exposição de seus dentes num sorriso em que ainda fazia lembrar-se da cena feita agora pouco.
Guimans ouviu um barulho. Parara de sorrir e ficara atento... Fazia um sinal para os outros, pedindo para que fizessem silencio. A mão deslizava pela bainha podendo chegar até o cabo da espada. Girava o corpo lentamente querendo observar ao redor. Quando chegara a estar em 180°, tomou um grande susto ao se deparar com um cavalo empinando e relinchando. Guimans com o susto, caiu sentado no chão com o braço erguendo a espada em direção ao cavalo negro em sua frente; - Abaixe a espada insolente! – disse Herutam ao desarmar Guimans com seu cajado fazendo a espada do mesmo ir parar longe e fincar na grama.
- Perdoe-me senhor Herutam... Eu não queria...
- Não queria, mas quase o fez! – diz o empertigado mago ao cortar as palavras de Guimans.
- Vesseu, Herutam e Mensageiro das almas. O que estão fazendo aqui? – murmurou Ortí com si mesmo.
- Meu irmão... Mas o que faz aqui? – disse Hannced não entendendo.
- Hannced... Temos que conversar. – disse Herutam apeando de seu cavalo.
- Vamos parar para descansar, pois estou com muita sede e fome. – disse Vesseu ao se aproximar.
- Oba, oba! Agora falou minha língua. – disse Ortí empolgado.
- Vamos amigos, vamos deixá-los a sós. – disse Vesseu levando os outros para um canto, onde numa pedra foram se sentar.
- Mas o que está acontecendo senhor Vesseu? – pergunta Guimans.
– O Ministro Harunem... Morreu. – balbuciara ele, meio sentido enquanto continuava a lamuriar. Ortí e Guimans estacaram.
Após um tempo detido, Guimans olhou para Hannced que estava distante junto à Herutam. Via Hannced se ajoelhar perante o irmão enquanto colocava as palmas das mãos em seu rosto triste, e, depois fazendo as mãos deslizarem pela testa até a nuca podendo jogar seus cabelos brancos para trás esticando-os em meio aos dedos. As pálpebras apertadas não deixando os olhos marejados a mostra. Lagrimas desciam no canto do rosto até se acumularem no queixo em gotejo. Herutam só assistia, não podia fazer nada, infelizmente... Acontecera.
- Bem, é hora de pararem, pois o sol já está saindo de nossas visões. Descansem e comam alguma coisa... E não se esqueçam... Sem barulho na noite... Os espíritos não vão gostar. – sussurrava Mensageiro das almas enquanto lembrava os magos.
- Quando vamos comer? Precisamos descansar para continuar a viajem. – disse Guimans.
- Concordo com você. Afinal, se não comemos não teremos forças para chegar a lugar algum. – fala Vesseu procurando um lugar para eles descansarem.
Herutam e Hannced já se aproximavam.
- Isso mesmo, vamos comer, para não nos prejudicarmos. – disse Ortí.
- Você não parou de comer até agora! – fala Guimans.
- Que isso meu caro amigo. Apenas estava... Beliscando. – disse Ortí.
Os magos olharam para o céu que vinha a enegrecer. Olhavam para o horizonte e via-se uma faixa rubra surgir após a decadência do sol dentre os montes.
Herutam olha para umas árvores bem fechadas:
- Eu acho que ali seria um bom lugar para um descanso. – disse ele se aproximando.
– Tudo bem. Vou pegar lenha para acendermos uma fogueira enquanto comermos. - disse Hannced meio triste e se afastando, queria ficar um pouco sozinho.
- Até mais! E que os Deuses estejam com vocês! – falava Mensageiro das almas enquanto cavalgava para o alto, e sumia ao atravessar uma árvore.
Todos os magos estavam tristes. Vesseu e Herutam foram contar para Ortí e Guimans, sobre a morte do legendário mago de Athór enquanto caminhavam para debaixo das árvores onde vão descansar.
Herutam ainda observava o irmão cabisbaixo.

domingo, 14 de março de 2010

CAPÍTULO 7 - Um convite muito bem vindo.





Dentro do Reino Sonaire havia um grande movimento na praça principal do vale Sonar. Muitos comerciantes com infinidades de coisas, e muita gente comprando e vendendo objetos e pertences.
Assim era o Reino Sonaire, uma grande praça em comércios e com alguns casarões para pessoas de uma classe um pouco mais alta do que a dos homens dos campos. Um gigantesco chafariz encontrava-se ao centro do Reino. Pessoas respeitosas e muito alegres. Depois de algum tempo, surgem alguns guardas à cavalo no centro da praça e dizem:
- Por ordem do Rei Heriano, estamos convocando pessoas para trabalharem nos aposentos do castelo e durante a festa do Rei.
Enquanto isso uma bela jovem estava comprando alguns pães, e ouviu o que os guardas diziam, não pensando duas vezes, largara os pães na barraca e convergira-se em direção aos guardas para ser uma das candidatas as vagas do castelo. A jovem fora empurrando todo mundo até chegar ao guarda que pasmado disse:
- Olá moça!... Não precisa tanta pressa.
- É que eu sempre quis conhecer o castelo, e outra oportunidade como essa é bem difícil. – disse ela arfante.
- Tudo bem, vamos com calma, diga-me o seu nome e em que parte do Reino você mora?
- Meu nome é Áthany e... Moro nos campos de Sonar.
O guarda pegara um pergaminho e enquanto escrevia, dizia a ela:
- Muito bem Áthany. Estamos dando oportunidades para muitos hoje. Amanha quando o sol estiver em cima da torre do castelo, você vai até o portão principal, vamos estar lá esperando por todos.
- Tudo bem, estarei lá. – disse ela com um largo sorriso em alegre semblante.
Áthany agradece ao guarda pela oportunidade e corre para dar à incrível noticia aos seus pais. Como Áthany é uma quase mulher com seus dezenove anos, não tinha quem não olhasse para a felicidade estampada em seu rosto onde o sol batia constantemente, pois trabalhar no reino é uma coisa que ela sempre quis. Sempre que podia, a jovem Áthany subia nas árvores próximas a sua morada e ficava apreciando o reino inteiro com o castelo ao fundo, sempre querendo saber como seria lá dentro. Mas o Maximo que conseguira, era chegar à cidade.
Quando Áthany estava chegando perto de sua casa, viu sentada numa das raízes de uma árvore, uma senhora cabisbaixa que nunca tinha visto por ali. Ela diminuiu a velocidade e aproximara-se da senhora.
- Ola; - A senhora precisa de alguma ajuda? – indagou Áthany.
A mesma de cabelos brancos levantara a cabeça e olhara para Áthany dizendo:
- Não minha querida, não preciso de ajuda não, só parei um pouco para descansar na sombra desta árvore.
- Ah ta... Pensei que a senhora estava precisando de alguma coisa.
- Muito obrigada... Mais uma coisa não deu para deixar passar sem me chamar a atenção. – disse a senhora pegando apanhando algumas amoras da árvore, após ter se levantado e depois se sentou em outra raiz.
- Mais o que seria? – disse Áthany.
- A sua felicidade. – responde à senhora. - O que a deixa tão feliz minha querida? – disse a senhora abocanhando uma das frutas.
- Ahhh... Estou vindo do Reino Sonaire, lá da cidade. Um dos guardas me escolhera para trabalhar na festa que o rei estará realizando amanhã, estou muito feliz por isso, nunca entrei no reino, estou muito curiosa.
- Que linda essa sua felicidade, me motivou a andar mais um pouco até em casa.
Áthany ajuda a senhora a se levantar.
- Muito obrigada minha filha, tome... – disse a senhora entregando um dos frutos para Áthany. -... que os Deuses olhem em você essa grande generosidade, e... Cuidado. Guarde essa sua felicidade porque podem roubá-la. – murmurara à senhora olhando para Áthany.
- Isso é impossível. A felicidade é algo que não para de crescer em minha alma. – disse Áthany virando as costas para a senhora voltando em direção a sua casa, pois estava cada vez mais empolgada. – Até mais! E muito obrigada! – disse ela começando a correr e degustando o fruto que ganhara agora pouco.
- Mais podem roubar sua alma. – continuava a velha senhora murmurando enquanto via a jovem menina se distanciando. A senhora de cabelos brancos, agora ficara com os mesmos grisalhos, pois não era tão velha assim. Aquela senhora era Aina, de Ejru. - Logo, Logo esta jovem estará presa em meu fascínio. – disse a feiticeira sorrindo.
Áthany corria dentre os belos campos de colheita. Seus cabelos castanhos voavam numa trança. Quando percebe a fumaça saindo de uma chaminé, já sabe que está chegando a sua casa. A jovem aumenta a velocidade, não parava de sorrir enquanto esticava as pernas em longos passos fazendo correr ainda mais rápido enquanto gritava:
- Mãe! Pai! Eu consegui!
O pai de Áthany coloca o rosto na janela. – Meu amor, abra a porta, pois estou vendo que sua filha vai derrubá-la de tão empolgada que está – disse ele.
A mãe de Áthany corre para abrir a porta. Sua filha passa como se fosse feita só de vento.
- Filha! Qual o motivo de tanta felicidade? – perguntara a mãe.
- Mãe... Você não vai acreditar... – disse a jovem toda eufórica parando um pouco para respirar. -... Eu vou trabalhar amanha dentro do Reino.
- Nossa filha! Que noticia agradável
O pai de Áthany entra na sala.
– Isso por quantas moedas? – perguntara ele.
- Pai... Ainda é cedo para saber isso, tenho que estar lá quando o sol estiver em cima da torre principal.
- Certo. Então... Parabéns, você é uma garota de sorte grande, eu acho que os Deuses estão olhando a seu favor. – disse o pai indo abraçar sua filha. – E onde estão os pães.
- Ah, pai... Peço desculpas, mas eu me empolguei e acabei esquecendo os pães.
- Tudo bem. – disse o pai em outro abraço.
– E eu também acho pai que os Deuses estão olhando ao meu favor, e vou agradecê-los na hora em que me deitar.
- Isso mesmo filha! – disse a mãe sorridente colocando os pratos na mesa, que mais pareciam cuias. – Mas antes disso venha comer, pois hoje fiz o que você mais gosta. Vamos aproveitar para comemorar.
- Não acredito!... Muito obrigada mãe. Vou tomar um banho e já venho pro jantar.
- Espere. Vou pegar água no poço pra você minha filha. – disse o pai.
- Muito obrigada pai. – Enquanto isso vou arrumar minhas coisas pra poder levar amanha.
Áthany saiu correndo para seu quarto subindo a escada de madeira. Estava muito feliz com o apoio dos pais, que, nunca interferiram em nenhuma decisão que a filha tomasse, pois sabiam que a mesma tinha responsabilidades. Ela tinha liberdade para fazer tudo que tivesse vontade. Os pais ficavam tranqüilos sabendo que moravam num lugar calmo. Todo mundo se conhecia e se respeitava. Uns ajudavam aos outros para nunca faltar pra ninguém.

segunda-feira, 8 de março de 2010

CAPÍTULO 6 - Ejru.





O vale Ejru. Conhecido como vale da morte. Fica em outra ilha mais ao sul de Athór, um lugar escuro e frio onde nenhuma alma limpa pela natureza conseguiria viver. Um lugar totalmente tomado pelo sortilégio de quem o habita. Colinas altas em neves. Árvores mortas e arbúsculos próximos às coxilhas deste lugar soturno, totalmente coberto pela geleira.
Uma senhora de cabelos grisalhos e cumpridos, jogados até o final das costas, onde estava sentada num trono, Aina era o nome desta. A feiticeira permanecia-se sentada enquanto olhava fixamente para uma bola de vidro, a mesma era iluminada por uma luz mágica tipo néon.
Um ruído feito pela porta adentrava no imenso salão em pilastras sustentando o teto. O ruído chega aos ouvidos da senhora ali sentada. A mesma levanta a cabeça convergindo seu olhar para a porta que se abria deixando o vento frio introduzir e circular pelo salão. O homem de roupas escuras que acabara de adentrar no local, dirigiu-se para próximo do trono caminhando pelo chão liso onde tudo se refletia. A senhora se levanta:
– Então. – disse ela. – Como está o velho Harunem?
- Digamos... Que ele deve estar fazendo uma visita aos Deuses dos céus. – respondera o homem de capuz na cabeça. – Minha visita em Lenólia foi um sucesso. – continuava ele enquanto levantava o braço esquerdo na altura do pescoço deixando a serpente sair da manga e deslizar pelo ombro até as costas.
- Ótimo Daknan. Então, tudo corre muito bem. – disse a feiticeira. – E onde estão os amuletos? – continuou ela ao se virar.
Daknan era um homem muito estranho, sombrio, vivia sempre com aquelas longas roupas escuras e capuz na cabeça querendo esconder o rosto. Será que seu rosto era deformado? Bom, não se sabe. A única coisa que se sabe sobre ele, é que ele é um mago negro. Não se sabia muito dele, mas que ele parecia ter muita maldade em seu sorriso barbudo... Isso ele tinha.
- Eu não os encontrei. – Não estavam com o velho. – diz o mago negro muito irritado.
- Como assim não estavam com ele! E onde estão?
- Não sei... Ele não quis dizer. – Preferiu a morte a me contar! – disse o homem baixando a cabeça fazendo com que o capuz cobrisse mais ainda seu rosto. Não estava com medo, pois não queria olhar para a feiticeira a qual tinha os olhos espectrais ardendo em chamas amareladas.
- O que vamos fazer agora... Minha mãe? – disse o homem diante da mesma.
- Devemos encontrar os outros dois amuletos que surgiram... Depois veremos o que fazer.
- Está bem... Vamos atrás destes e depois avassalaremos Lenólia.
- Só invadiremos Lenólia, após a junção dos cinco amuletos de Athór em nossas mãos. Enquanto isso... Destrua Dakron e seqüestre aqueles Dragões trazendo-os para Ejru. Comessem pelos mais velhos. Vamos vigiá-los até o final de suas vidas. Assim, ficaremos com todos os amuletos. Infelizmente temos que esperá-los morrer, a lenda diz que quanto mais velhos morrerem os Dragões, mais poderoso é o amuleto, pois se matá-los antes, os amuletos não surgem. - Reúna tropas de Tróres. Precisamos encontrar os amuletos. Enquanto isso... – disse a feiticeira convergindo-se para a sacada onde a mesma abrira as portas para a senhora passar. O homem de negro vinha atrás. – Vou fazer uma visita à Sonar. – continuara Aina agora se transformando numa bela coruja branca e voando em direção ao horizonte até Sonar.
O sinistro homem colocara as palmas de suas mãos sobre o muro baixo da sacada, a mesma era sustentada pela geleira em montes sob o lugar. Olhara para o horizonte e sorriu ao ver seus súditos montados em Dragões, se aproximando com os Górmes urrando presos em jaulas. O homem de negro olhara para baixo; - Soldado! – chamara ele, um das sentinelas que guardava o imenso portão gradeado daquele reino. – Reúna todos os Tróres da ilha... – disse ele para aquela atalaia que também era um dos Tróres. – Vasculhe cada gruta, cada um dos montes em meio a essa geleira e façam um exercito revestindo-os de armaduras. – continuava ele enquanto iniciava-se a nevasca. O Tróre tira a base de sua lança do chão e se afasta correndo deixando o outro guarda sozinho, e foi atender ao pedido do homem de negro que adentrava no salão distanciando-se da sacada.
Os Tróres eram horríveis com seus corpos magricelas, alguns meio banguelas com suas caras tortas. Os Tróres vivem em Ejru, e servem a Aina e ao homem de vestes negras. Com elmos protegendo as cabeças com apenas pouquíssimos e longos fios de cabelos, e também algumas partes de armaduras revestindo seus franzinos corpos, eles defendem o reino de Ejru com suas próprias vidas.
As gaiolas ficaram abertas. Os Górmes saíram de dentro das mesmas se espalhando pela ilha. O pequeno de cabelos negros, após soltar o rei dos Górmes, vai até a sacada montado em seu Dragão e pousa em meio à neve espalhada. Ao descer do Dragão, o pequeno adentrara no salão indo para perto do mago negro que permanecia de costas.
- E agora. O que será feito? – disse o pequeno. – E onde está à senhora Aina?
- Aina foi para Sonar. – disse o homem misterioso. – Enquanto isso... Vocês voltarão para lá, onde fica o Bosque Sombrio e capturarão mais Górmes.
- Sim senhor... meu pai. – disse o garoto pondo-se de joelhos. - Voltaremos imediatamente para lá, mas... Tem um problema.
- E o que é?
- Ao chegarmos ao Bosque Sombrio. Deparamo-nos com alguns cavaleiros do rei, que estavam em séqüito dum homem muito alambre e arrojado que sozinho conseguira acabar com muitos dos Górmes. – continuava o pequeno ao falar de Thário. – Talvez ele de trabalho.
- É mesmo. Então mate esse tal cavaleiro arrojado e quem trombar pelo caminho. – disse Daknan permanecendo de costas. – Levem também as moças do campo, pois ninguém pode desconfiar de nossos planos. Já beberam de minha poção, ao chegarem a Sonar... Nunca se recordarão do lugar onde estavam, e ninguém virá descobrir sobre nós já que o velho Harunem está morto.
Rayro não era o único filho de Daknan. Os outros dois também eram. O loiro chamava-se Danio, e o de cabelos castanhos e cumpridos era Róri. Todos os três eram magos negros também, ainda aprendizes, mas, com tempo serão como seu pai, e daí então a maldade crescerá a cada dia subindo pelas artérias até as suas mentes tomadas pelos sortilégios.



Os magos continuaram a jornada pela trilha lentamente enquanto rumavam para Sonar. Hannced ia à frente, sempre cuidara muito bem de seu cavalo. Enquanto com uma das mãos o mago segurava a rédea, a outra carinhosamente deslizava pela cerda de seu tordilho, o mago olhava para todos os lados, pois estava encantado com tamanha beleza vista na floresta. Guimans que vinha ao lado, também encantado com a beleza do lugar, o mago de cabelos arrepiados permanecia boquiaberto enquanto olhava para alguns animais raros que ele nunca chegara a ver na vida. O jovem mago se interessara muito por um deles que estava em cima de uma pedra enquanto saboreava uma maça.
– Nossa! Que animal é este? – disse Guimans ao continuar olhando.
- Se não me falha a memória, este é um Totim. – fala Ortí, também muito feliz por estar diante de um animal tão raro.
- É mesmo? E como você sabe? – perguntara Guimans.
- Quando eu era pequeno, meu pai me falava sobre os animais da floresta, e pelo visto, ele me descrevia-os muito bem, por isso tenho certeza que este é um Totim.
- Há é. – E como o velho Ortes entrava na floresta sem que os espíritos dos antigos magos pudessem expulsá-lo? – disse Guimans debochadamente.
- Meu parvo. – disse Ortí. E para variar, o mesmo enchia a caneca, mas agora era de leite. – Meu pai foi um grande mago e um excelente observador. E se você não sabe, ele também já foi um ministro, e, entrava em Lenor-Ruduer, quando quisesse. – continuava ele com a ironia enquanto tirava da cesta uma rosquinha. – Além dos animais que nós já conhecemos por conviverem conosco em Lenólia, existem também as espécies raras da floresta, dentre elas, os Totins. – Os Totims não têm pêlo algum em seu corpo magricela, sem rabo e com seus braços e pernas finos como se fossem gravetos, suas mãos e pés eram grandes e cumpridas. Os Totims andam de pé, como nós. Aliás, eles se parecem conosco pelos seus jeitos de serem, eles só não chegam a ter o nosso tamanho e aparência. Eles têm mais ou menos o tamanho de nossas pernas. Sua fisionomia chama muito a atenção, pois seus rostos vivem em tristeza, parecem até que choraram a vida inteira. Com seus olhos grandes e esbugalhados quase que saltando de seus rostos, que, também eram muito finos. Dentro de suas bocas, dentes pequenos e muito que dos bem afiados para poder triturar qualquer casco de caracol. Tinham também um nariz tão pequeno que quase não se podia ver, e, eles tinham pavor de tudo, achavam que tudo podia fazer mal a eles, menos... Os insetos e lesmas, pois eram seus alimentos. Apesar de eles serem assim e terem esse jeito, os Totims são muito dóceis, não fazem mal algum a ninguém, e, o que eles mais gostam de fazer, é se balançarem pelos galhos das imensas árvores da floresta. – terminava Ortí enquanto via aquele Totim que estava em cima da raiz mastigando um caracol, agora já subia na árvore e depois se lançava de galho em galho enquanto se distanciava. Guimans ficava cada vez mais pasmado com o que assistia.
- Isso é maravilhoso não é! – disse Hannced. – Agora teremos os mesmos privilégios que nossos pais tiveram. – continuou ele falando para Ortí. Guimans baixou a cabeça, não muito bem ao ver os outros falando dos pais, pois seu pai não foi um ministro como os deles. Ortí e Hannced perceberam que Guimans estava triste e pararam de falar...
- Olha só! São cisnes azuis ali no lago. – disse Ortí quebrando o silencio e mudando de assunto.
- Nossa que interessante! – disse Hannced se empolgando com Ortí para animar um pouco Guimans que continuava cabisbaixo.