Vesseu e Herutam passaram pelos primeiros jequitibás ao adentrarem na floresta. Cavalgavam rápido saltando por pedras arenosas e passando por aclives barrentos. Desviavam-se dos arbúsculos e de enormes raízes ariscas.
- Temos que ir mais depressa! – disse Herutam.
- Sim. Mas vai ser difícil... Com todos esses obstáculos. – fala Vesseu após saltar por cima de uma das raízes no caminho.
- Uooou!... – disseram eles puxando as rédeas para si mesmos, fazendo com que os tordilhos parassem ao se depararem com Mensageiro das Almas.
- O que pensam que estão fazendo!? – estrilara espírito.
- Não queríamos perturbar ninguém. – enfatizara o plácido Vesseu em escusar.
- Não queriam! Mas perturbaram! – o fantasma em decadência pousara em solo arenoso.
- Viu se três magos... Desconhecidos aos seus olhos passaram por aqui? - perguntara Herutam ao indagar.
- Além de todo esse alvoroço... Ainda querem respostas. – Mensageiro das Almas ainda continuava com uma cara não muito boa. – Sim. Eu os vi. – Também chegaram à baderna igual a vocês. – Mas para que toda essa pressa? Sabem que os espíritos não gostam nem um pouco.
- Perdoe-nos Kerkisternio. – desculpou-se Herutam enquanto pronunciava o verdadeiro nome de Mensageiro das Almas.
- Tudo bem. Falarei para os outros espíritos que eram apenas alguns animais. – disse o espírito querendo se esquecer do ocorrido e pensando numa desculpa para dar aos outros espíritos da floresta. Vesseu e Herutam agradeceram por isso. - Mas na verdade, o que querem senhores Vesseu e Herutam?
- Precisamos encontrar os outros que estão à procura dos amuletos de Athór. – disse Vesseu.
- Ouvi falar sobre tais amuletos... E porque precisam encontrá-los? – Os testes são para serem feitos sozinhos.
- Meu pai acaba de morrer. – disse Herutam em triste semblante.
- O Ministro Harunem está morto!? – espantara-se Kerk.
– Precisamos encontrá-los e dizer que eles correm perigos, pois a outros interessados nos amuletos. – dizia Vesseu.
- Mas como ele morreu?
- Não sabemos. – continuava Herutam. – Só sabemos que ele teve uma visita desconhecida. Com certeza ele não morrera de velhice.
- Chegara a falecer antes que quisesse nos dizer mais alguma coisa. – continuara Vesseu
- Eu ainda não soube da morte dele porque seu espírito só habitará na floresta após sete dias em tumulo fechado. – explicou Mensageiro das Almas.
- Não podemos perder mais tempo. - disse Herutam.
- Eu sei o caminho que eles pegaram. - disse o espírito. – A essa altura devem estar próximos ao pequeno lago dos cisnes azuis. – Conheço diversos atalhos para chegarmos mais rápido. – continuara ele, pois o alambre espírito conhecia cada canto da floresta em que morava.
Mensageiro das Almas começara a assoviar. Um belo espírito de um cavalo de cerda branca surge em decadência dentre as árvores da floresta flutuando em cavalgadas. O tordilho em transparência parara ao lado de Mensageiro das Almas que montou. – Vamos logo, no caminho vocês me contam o resto. – disse ele após bater com os calcanhares na barriga do animal que disparara. Vesseu e Herutam o seguiram.
Guimans ainda estava tristonho. Ortí e Hannced já tinham tentado de tudo, até que o mago glutão teve a idéia de entoar:
De olho nos belos animais
Floresta adentra aclive abaixo.
Passando em frente a um lago...
E não a um riacho.
Folhas caindo
Cisnes nos ares.
Totims sorrindo...
Nos altos das árvores.
Que linda paisagem
Nunca foi visto algo igual.
Muitas flores e verdes em montes...
Neste lugar descomunal.
Mas que lindo este lugar
Muito bom para viver
Ótimo para se morar
Num crepúsculo ao arrefecer
Cavalgando até Sonar
Até o sol nascer...
Continuando a cantar
Até amanhecer.
Ortí estava muito alegre enquanto cantava. O mago glutão se assusta enquanto seguia com seu tordilho por debaixo de alguns galhos, até que um Totim, de cabeça para baixo pendurado num dos galhos ali perto, pegara o chapéu pontudo do mago fazendo-o derrubar a caneca na carroça graças ao susto que levara.
Guimans solta um sorriso de canto de boca, aos poucos o sorriso ia se alargando até que o mago de cabelos arrepiados começara a dar altas gargalhadas com a situação em que o mago Ortí ficara, e começara a cantar junto:
De olho nos belos animais
Floresta adentra aclive abaixo.
Passando em frente a um lago...
E não a um riacho. Hahahaha...
Ortí começara a ficar irritado. Não tinha gostado nem um pouco daquele Totim ter pegado seu chapéu. O mago ficara de pé na carroça e esticava os braços querendo pegar o animal para dar-lhe uma lição e poder recuperar seu chapéu. Mas infelizmente -, para a alegria de Guimans – o mago cai sentado na carroça.
Guimans não parava com suas altas gargalhadas.
O Totim saltava de galho em galho subindo cada vez mais.
- Acha isso engraçado? – perguntara Ortí para Guimans, pois o mesmo não parava de rir.
Hannced fingiu estar com pigarro, e forçou um barulho saindo da garganta para chamar a atenção de Ortí. O mago olha para Hannced que anuía com a cabeça após uma piscadela. Ortí entendeu o que Hannced queria lhe dizer, e parara de implicar com Guimans que a pouco estava triste, e agora se alegrava. Ortí continuou a cantar:
Totim maldito muito abusado
Acha-se muito esperto brincando
Pegar-te-ei macaco dos galhos...
Seu chato e folgado
Recuperarei meu chapéu
Depois te lançarei num tonel!
Ortí via a alegria estampada no semblante de Guimans que soltava uma gargalhada atrás de outra sem cessar. Depois tampou a boca com uma das mãos. Não queria ser advertido novamente por Mensageiro das Almas.
O Totim lançara de volta o chapéu de Ortí para o próprio. O chapéu vinha na direção do mago sem que o mesmo o visse. O chapéu vindo dos ares chega à cabeça do mago glutão, e, rodopiara até parar e cobrir um pouco os olhos do mago.
Guimans ria cada vez mais. – Mas que pontaria hein? – dissera ele.
Ortí não estava mais ligando para as risadas de Guimans. Estava muito contente ao ver o sorriso estampado no rosto do mago de cabelo moicano.
Alguns minutos se passaram junto com a trilha. O mais jovem dos magos fazia exposição de seus dentes num sorriso em que ainda fazia lembrar-se da cena feita agora pouco.
Guimans ouviu um barulho. Parara de sorrir e ficara atento... Fazia um sinal para os outros, pedindo para que fizessem silencio. A mão deslizava pela bainha podendo chegar até o cabo da espada. Girava o corpo lentamente querendo observar ao redor. Quando chegara a estar em 180°, tomou um grande susto ao se deparar com um cavalo empinando e relinchando. Guimans com o susto, caiu sentado no chão com o braço erguendo a espada em direção ao cavalo negro em sua frente; - Abaixe a espada insolente! – disse Herutam ao desarmar Guimans com seu cajado fazendo a espada do mesmo ir parar longe e fincar na grama.
- Perdoe-me senhor Herutam... Eu não queria...
- Não queria, mas quase o fez! – diz o empertigado mago ao cortar as palavras de Guimans.
- Vesseu, Herutam e Mensageiro das almas. O que estão fazendo aqui? – murmurou Ortí com si mesmo.
- Meu irmão... Mas o que faz aqui? – disse Hannced não entendendo.
- Hannced... Temos que conversar. – disse Herutam apeando de seu cavalo.
- Vamos parar para descansar, pois estou com muita sede e fome. – disse Vesseu ao se aproximar.
- Oba, oba! Agora falou minha língua. – disse Ortí empolgado.
- Vamos amigos, vamos deixá-los a sós. – disse Vesseu levando os outros para um canto, onde numa pedra foram se sentar.
- Mas o que está acontecendo senhor Vesseu? – pergunta Guimans.
– O Ministro Harunem... Morreu. – balbuciara ele, meio sentido enquanto continuava a lamuriar. Ortí e Guimans estacaram.
Após um tempo detido, Guimans olhou para Hannced que estava distante junto à Herutam. Via Hannced se ajoelhar perante o irmão enquanto colocava as palmas das mãos em seu rosto triste, e, depois fazendo as mãos deslizarem pela testa até a nuca podendo jogar seus cabelos brancos para trás esticando-os em meio aos dedos. As pálpebras apertadas não deixando os olhos marejados a mostra. Lagrimas desciam no canto do rosto até se acumularem no queixo em gotejo. Herutam só assistia, não podia fazer nada, infelizmente... Acontecera.
- Bem, é hora de pararem, pois o sol já está saindo de nossas visões. Descansem e comam alguma coisa... E não se esqueçam... Sem barulho na noite... Os espíritos não vão gostar. – sussurrava Mensageiro das almas enquanto lembrava os magos.
- Quando vamos comer? Precisamos descansar para continuar a viajem. – disse Guimans.
- Concordo com você. Afinal, se não comemos não teremos forças para chegar a lugar algum. – fala Vesseu procurando um lugar para eles descansarem.
Herutam e Hannced já se aproximavam.
- Isso mesmo, vamos comer, para não nos prejudicarmos. – disse Ortí.
- Você não parou de comer até agora! – fala Guimans.
- Que isso meu caro amigo. Apenas estava... Beliscando. – disse Ortí.
Os magos olharam para o céu que vinha a enegrecer. Olhavam para o horizonte e via-se uma faixa rubra surgir após a decadência do sol dentre os montes.
Herutam olha para umas árvores bem fechadas:
- Eu acho que ali seria um bom lugar para um descanso. – disse ele se aproximando.
– Tudo bem. Vou pegar lenha para acendermos uma fogueira enquanto comermos. - disse Hannced meio triste e se afastando, queria ficar um pouco sozinho.
- Até mais! E que os Deuses estejam com vocês! – falava Mensageiro das almas enquanto cavalgava para o alto, e sumia ao atravessar uma árvore.
Todos os magos estavam tristes. Vesseu e Herutam foram contar para Ortí e Guimans, sobre a morte do legendário mago de Athór enquanto caminhavam para debaixo das árvores onde vão descansar.
Herutam ainda observava o irmão cabisbaixo.