domingo, 25 de abril de 2010

CAPÍTULO 9 - Ataque Surpresa





O homem de negro estava sentado no trono ao lado do que era de sua mãe. As portas que davam passagem à sacada permaneciam abertas. O vento frio invadia junto à nevasca não incomodando nem um pouco o homem ali sentado.
Aina transformada em coruja adentrara no salão pela sacada indo pousar numa estatua de uma gárgula ao lado do homem de negro.
- Já mandei reunirem as tropas de Tróres. – disse o homem.
- Muito bem... Continua tudo correndo muito bem. – disse a coruja enquanto se transforma em Aina novamente. – Agora, temos somente que aguardar, e ver meu plano ser um sucesso.
- Falei com Rayro. Pedi a ele que quando voltassem para o Bosque Sombrio, em Sonar, que leve as tropas de Tróres junto, para ajudar os truculentos Bubers que vivem após os aclives descendo as montanhas Crisnã.
- Eu sei onde eles vivem. – ignorou a feiticeira.
- Sim senhora, claro que sabe. – escusou o mago ao se levantar.
Os Bubers não tinham o corpo magricela, tampouco eram banguelas como os Tróres... mas até que tinham também as caras tortas. Só que o mais impressionante e pavoroso, é que eles são muito fortes e medem quase quatro metros de altura, colocando medo em todos que cruzavam seu caminho.
– E seu plano, como foi?
- Excelente! E a magia só irá funcionar, quando ela encontrar um dos magos de Lenólia.
- Ela quem?
- A jovem moça que encontrei correndo pelos campos de Sonar... – disse Aina sorrindo. -... Estava tão empolgada, pois graças a mim, - que fiz o guarda do reino cair num de meus feitiços, - ele convocou-a para trabalhar para o rei, numa festa que o rei dará para os magos de Lenólia. É um disfarce do rei Heriano para ninguém em toda Sonar descobrir algo sobre os magos que existem. E por falar em jovem moça... mandou as outras de volta?
- Sim, já estão a caminho. E também pedi para que trouxessem outras. – enfatizara o homem encapuzado. - Mas, esta jovem que acabara de mencionar, em que lhe servirá?
- Não se preocupe... Você vai ver... Você vai ver... – disse Aina caminhando em direção a uma coluna de um metro de altura sob um grande recipiente cheio d’água. A feiticeira toca na água fazendo um movimento em circulo, podendo assistir a cena em que Áthany naquele momento jantava com sua família. Daknan se aproxima, e assiste com sua mãe cuja mesma sorria diabolicamente.



Os pequenos magos negros sobrevoavam os navios de Tróres. Às vezes as nuvens ocultavam a visão lá de baixo.
Rayro olhara para Danio e Róri. Eles assentiram. Como se um tivesse lido a mente do outro.
Os três decidiram descer. Furando as nuvens como flechas em decadência. A minguante brilhava enquanto os três passavam na frente.
Num rasante, o dragão negro de Rayro se aproximara da corveta que liderava as tropas de Tróres. Quando percebe o quanto está próximo do pequeno navio, o jovem mago negro fica de pé em seu dragão e corre sobre a asa imóvel do animal. Num salto giratório entre os ventos, o pequeno pousa com caução no convés.
Róri e Danio fizeram o mesmo pelo outro lado.
Os dragões continuaram o vôo.
O capitão dos Tróres se aproxima do primeiro mago aprendiz que aterrissara. Vestia longas roupas negras também. Verdadeiros trapos praticamente desfiados.
Garras surgem entre as grades do convés.
Danio e Róri se assustam com o Górme que tenta evadir daquele improvisado calabouço. Rayro era mais astuto, não se intimidara tampouco se alarmara. Rayro se aproxima das grades no convés e afrontara os Górmes com furor. Levantara uma das mãos onde da mesma saíram serpentes da manga.
- Relaxem eles um pouquinho. – sussurrou para as serpentes em meio aos dedos e depois as lançou para os truculentos cães que urraram.
- Desculpe senhor. Estamos tentando adestrá-los ainda. – disse o capitão com sua voz rouca e sibilante.
Rayro não dissera nada.
Alguns dos Tróres tentavam dominar um dos cães com laçadas de cordas enquanto outro tentava montar, como se fosse um vaqueiro.
- Mas já deveriam ter-los dominados. – falara Róri. E ficara observando o “Tróre vaqueiro”.
O Górme com sua ferocidade consegue libertar uma das patas e num impulso feito com as costas ele arremessa o Tróre pra fora da corveta. Outros da soldadesca lançam cordas ao mar para salvar o companheiro.
- Até amanha estarão prontos. – respondera o capitão.
Rayro se dirigiu até o Górme laçado. Os Tróres se esforçavam para manter o animal sob controle. O pequeno mago negro tira uma flauta do bolso interno de suas longas vestes. Deixou-a na horizontal e começara a soprá-la. Uma melodia agradável percorrera aurícula adentro do Górme, tranqüilizando a enorme fera presa no fascínio da introdução musical. O cão amansara, fazendo com que os Tróres relaxassem e deixassem as cordas afrouxarem.
O Tróre que fora lançado ao mar, agora retornava à corveta após seu resgate. Gotas salgadas umedeciam o convés. O Tróre arfava e tossia arqueado com as mãos nos joelhos.
O Górme pousou a cabeça nas patas, sucumbindo no transe.
O Tróre desembainhou a espada ensopada e fora atacar a fera que adormecera.
Rayro não permitiu o ataque. Com sua flauta ele lançou uma esfera de fumaça negra que atingira o Tróre no peito e lançando-o de volta ao mar, só que desta vez, a quilômetros de distancia.
O restante apenas observava.
O pequeno guardara a flauta que usara como varinha de bruxo. Aproximou-se do horroroso capitão que se agachou descansando um joelho no convés. Ficou com medo que o mago aprendiz fizesse algum mal a ele. Direcionara seus olhos amarelados para convés.
- Metade dos soldados vão nos acompanhar até o bosque sombrio, navegará depressa nos seguindo até o bosque onde capturaremos mais Górmes e colocaremos todos para se juntarem aos Bubers. – iniciou Rayro. - A outra metade irá para a praia, próximo aos campos. Esta metade chegará devagar e atacará os campos ao crepúsculo de amanha, seqüestrando o máximo de meninas e mulheres. - Essas são ordens do mago supremo. - o capitão balançou a cabeça positivamente. – Avise aos lideres dos outros navios. Decida logo quem vai conosco, tenho pressa.
- Sim, senhor. – concordou o capitão.
- Pode se levantar.
- Obrigado, senhor.
O Tróre ficara de pé. Estava frente a frente com o pequeno mago negro que o observava de baixo.
Rayro, em semblante fechado, encarava o capitão esguio. Pegara a flauta novamente deixando o Tróre amedrontado e com um olhar turvo.
Começara a tocar e a dançar em rodopio.
Os dragões negros dos pequenos magos obedeceram ao chamado da melodia. O de Rayro parara no ar, sobrevoando o navio. Com a cauda ele puxa a tranqueta e inclina à gaiola fazendo as jovens deslizarem e caírem.
Danio e Róri apanharam-nas em seus braços.
- Levem-nas de volta. – ordenou Rayro.
- Sim senhor. – meneou o capitão.
Danio e Róri correram e pularam sobre as asas para montarem nos dragões novamente.
- É melhor não fracassar, se não quiser que cada ilha tenha uma parte de seu corpo enterrado. - E essas... são minhas ordens. – foram as ultimas palavras de Rayro ao capitão dos Tróres antes de correr e saltar para o seu dragão negro.
Os pequenos magos aprendizes convergiram para o Bosque Sombrio em Sonar, contornando a ilha. Atrás deles vinham mais sete dragões negros. E embaixo deles, - pelo mar -, vinham os Tróres, em nove navios cheios desses monstros magricelas protegidos com pouca armadura. Alguns estavam com seus sorrisos banguelas estampados em suas caras horríveis, cada qual com suas caras piores do que as outras.
Quatro navios remavam indo de encontro aos Bubers atrás das montanhas Crisnã. Os outros cinco se dirigiam vagarosamente com um ataque reforçado junto aos Górmes, tendo como objetivo o rapto das moças dos campos.



O sol já estava indo dormir atrás dos montes. Logo o crepúsculo mostraria o fio alaranjado no horizonte.
Rayro, Danio e Róri chegaram ao Bosque Sombrio. Pousaram as jaulas e ao lado destas com os dragões.
Os Tróres já estavam reunidos em terra firme.
Das grutas reluzentes pelos diamantes saíram os cães Górmes. As feras não gostavam de ser perturbadas.
Os Tróres desembainharam as espadas. Górmes e Tróres urravam uns para os outros. As feras reconheceram os invasores, pois eram os mesmos que levaram muitos de seus parentes.
Rayro retirou a flauta do bolso de sua vestimenta. Começara a soprar a mesma melodia que encantara os Górmes no navio. As feras ali presentes foram dominadas por esta melodia. Os cães cessaram o brado e achegaram-se aos Tróres que se agruparam em forma defensiva.
- Apenas os guiem para as jaulas. – gritou Rayro.
Um dos Tróres teve medo do Górme que se aproximava. O mesmo bufava pelas narinas. A comitiva percebera que as feras estavam realmente mansas. Um dos que parecia ser o capitão, acariciou a pelagem cinzenta do animal e conduziu-o a jaula.
Os magos negros tinham tênues sorrisos de satisfação.
Os pequenos ficam surpresos com alguém vindo na direção deles pelo leste do platô verdejante. Era um homem encapuzado de verde-escuro, quase musgo. Tinha saído da floresta Ransor-vel e se aproximava em velocidade descomunal, como um cugar. O capuz ocultava metade de sua face, expondo apenas uma barba ruiva, curta e escovada. Suas vestes tremulavam ao vento. Logo atrás deste, surgiram mais quatro com os mesmos trajes. Corriam em velocidade absurda também.
Um da soldadesca magricela decidira montar em um dos Górmes que caminhava para a jaula. – Vamos ver até onde eles são arrojados. – disse ele. O Tróre retira a espada da bainha e a aponta para o céu violeta. Urra em sinal de bravura e salta junto ao cão sobre uma pedra de meio metro de altura e dispara num ataque ao velocista de roupas verde-escura. Outros quatro Tróre agiram iguais e partiram urrando para o ataque.
O homem continuava sua maratona de encontro ao Tróre montado no Górme. Os outros acompanhavam a certa distancia.
- Voltem! – vociferou Rayro. Mas os tolos Tróres não deram ouvidos.
O Tróre que tomava à frente balbuciava:
- Esses humanos. Vou ensiná-los a não agirem mais com todo esse ímpeto.
O Górme deixava o solo marcado por suas pesadas patas. Estava ávido a chegar perto do louco que avançava sem perder o ritmo. O Tróre estava convicto de que o esmagaria, mas fora surpreendido com o homem de barba ruiva, que, ao saltar no mesmo instante que o Górme e antes de colidir com o mesmo, se transforma num leão tão feroz e de porte tão grande quanto o Górme. Quando se chocaram, o Tróre é jogado longe com o impacto.
O cão Górme e o homem que se transformara em leão, começaram seu combate truculento. Os quatro Tróres montados nos cães ficaram incrédulos.
- Recuar, recuar! – puxavam a pelagem dos cães, como se fossem rédeas, mas as feras não obedeciam.
A segunda pessoa de vestes verde investia na corrida, mas o Tróre e o Górme mais próximos ainda estavam meio longe. Parecia que o Tróre já imaginava a cena em que era devorado pelo homem - leão. Só que também ficara surpreso com o que vira. Ainda longe, o Tróre observou o homem à sua frente saltar alto e mergulhar de cabeça na terra que espalhara um pouco de grama para os lados. O homem sumira como um coelho na toca, causando tremores no chão lembrando um terremoto de poucos graus na escala Richter. Aquele que mergulhara no solo, agora surgia atrás do Górme e Tróre. Não tinha mais a aparência humana. Agora era uma sucuri que saia da terra.
O medroso Górme era minúsculo perto do monstro rastejante.
A sucuri serpenteava ligeiramente pela grama até o soldado e o cão que evadiam. Envolveu-os numa espiral que os estrangulara, fazendo com que o Tróre e o Górme virassem um só. A anaconda arrancara as cabeças com a boca e as cuspira nos Tróres montados à Górmes que avançavam.
- Pelos deuses, mas o que é isto? – dissera Danio assistindo de longe.
- Voltem seus tolos, voltem! – Rayro não estava crendo no que via. Por isso estrilava enlouquecido.
Mais três pessoas de roupas verde-escuro se aproximavam. Uma delas se transformara num gorila que mais parecia uma parede de tão bárbaro que era. O mesmo agarrara um dos Tróres que fora derrubado por uma cabeça voadora, e, usara o mesmo como porrete para desferir golpes no Górme. O outro Tróre que fora atingido por outra cabeça fugia em desespero de alcançar o único dos soldados montado no cão que ainda não fora ferido. Tinha deixado seu Górme para trás, o qual estava sendo esquartejado pelas garras de um imenso tigre branco agora.
Faltava apenas um, dos cinco que saíram da floresta Ransor-vel e que surtiram bem sobre o ataque surpresa que investiram contra os pequenos magos negros e seus séqüitos de Tróres e Górmes. Este quinto homem que surgiu pela floresta dera um salto como o segundo que se transformara numa sucuri. Mas este não mergulhara em terra e grama. O homem não parava de subir. Parecia voar em busca das nuvens.
O soldado que fugia com o Górme volta para ajudar o Tróre que arfava a pé pedindo por socorro. Quando o soldado monta atrás do outro se sentindo mais seguro, eles percebem que uma sombra os cobrira. Parecendo que a noite tivesse subitamente dominado o fim da tarde. Mas na verdade não era, e perceberam isso quando ouviram o canto de uma águia ficando cada vez mais perto e alto. Ao olharem para o céu e se depararem com uma ave de tamanho assustador, - muito maior do que qualquer ave normal -, seus rostos já demonstravam o quanto se dariam mal no final de tudo aquilo.
A águia os esmagara e arrastava suas garras sobre os cadáveres ensangüentados.
Os pequenos magos negros viram o leão, sucuri, gorila e tigre branco passarem pela águia que pisoteava os Tróres e o Górme. Chegavam ferozes atacando os cães e a comitiva.
- Recuar, recuar! – insistia Rayro enquanto montava em seu dragão.
Rayro, Danio e Róri deixaram as gaiolas e começaram a fugir com seus dragões negros. Sabiam que aquele pequeno exército não daria conta dos atacantes.
A soldadesca estava sendo aniquilada, logo não sobraria mais ninguém.
– Vamos voltar para Ejru. – fala Rayro em semblante fechado. Os outros aprendizes anuíam positivamente com a cabeça.
A noite chegava.
Os Tróres urravam para os magos que sumiam no ébano do céu, não deixando ao menos um dragão negro como reforço.