domingo, 21 de março de 2010

CAPÍTULO 8 - Triste Noticia.






Vesseu e Herutam passaram pelos primeiros jequitibás ao adentrarem na floresta. Cavalgavam rápido saltando por pedras arenosas e passando por aclives barrentos. Desviavam-se dos arbúsculos e de enormes raízes ariscas.
- Temos que ir mais depressa! – disse Herutam.
- Sim. Mas vai ser difícil... Com todos esses obstáculos. – fala Vesseu após saltar por cima de uma das raízes no caminho.
- Uooou!... – disseram eles puxando as rédeas para si mesmos, fazendo com que os tordilhos parassem ao se depararem com Mensageiro das Almas.
- O que pensam que estão fazendo!? – estrilara espírito.
- Não queríamos perturbar ninguém. – enfatizara o plácido Vesseu em escusar.
- Não queriam! Mas perturbaram! – o fantasma em decadência pousara em solo arenoso.
- Viu se três magos... Desconhecidos aos seus olhos passaram por aqui? - perguntara Herutam ao indagar.
- Além de todo esse alvoroço... Ainda querem respostas. – Mensageiro das Almas ainda continuava com uma cara não muito boa. – Sim. Eu os vi. – Também chegaram à baderna igual a vocês. – Mas para que toda essa pressa? Sabem que os espíritos não gostam nem um pouco.
- Perdoe-nos Kerkisternio. – desculpou-se Herutam enquanto pronunciava o verdadeiro nome de Mensageiro das Almas.
- Tudo bem. Falarei para os outros espíritos que eram apenas alguns animais. – disse o espírito querendo se esquecer do ocorrido e pensando numa desculpa para dar aos outros espíritos da floresta. Vesseu e Herutam agradeceram por isso. - Mas na verdade, o que querem senhores Vesseu e Herutam?
- Precisamos encontrar os outros que estão à procura dos amuletos de Athór. – disse Vesseu.
- Ouvi falar sobre tais amuletos... E porque precisam encontrá-los? – Os testes são para serem feitos sozinhos.
- Meu pai acaba de morrer. – disse Herutam em triste semblante.
- O Ministro Harunem está morto!? – espantara-se Kerk.
– Precisamos encontrá-los e dizer que eles correm perigos, pois a outros interessados nos amuletos. – dizia Vesseu.
- Mas como ele morreu?
- Não sabemos. – continuava Herutam. – Só sabemos que ele teve uma visita desconhecida. Com certeza ele não morrera de velhice.
- Chegara a falecer antes que quisesse nos dizer mais alguma coisa. – continuara Vesseu
- Eu ainda não soube da morte dele porque seu espírito só habitará na floresta após sete dias em tumulo fechado. – explicou Mensageiro das Almas.
- Não podemos perder mais tempo. - disse Herutam.
- Eu sei o caminho que eles pegaram. - disse o espírito. – A essa altura devem estar próximos ao pequeno lago dos cisnes azuis. – Conheço diversos atalhos para chegarmos mais rápido. – continuara ele, pois o alambre espírito conhecia cada canto da floresta em que morava.
Mensageiro das Almas começara a assoviar. Um belo espírito de um cavalo de cerda branca surge em decadência dentre as árvores da floresta flutuando em cavalgadas. O tordilho em transparência parara ao lado de Mensageiro das Almas que montou. – Vamos logo, no caminho vocês me contam o resto. – disse ele após bater com os calcanhares na barriga do animal que disparara. Vesseu e Herutam o seguiram.



Guimans ainda estava tristonho. Ortí e Hannced já tinham tentado de tudo, até que o mago glutão teve a idéia de entoar:


De olho nos belos animais
Floresta adentra aclive abaixo.
Passando em frente a um lago...
E não a um riacho.

Folhas caindo
Cisnes nos ares.
Totims sorrindo...
Nos altos das árvores.

Que linda paisagem
Nunca foi visto algo igual.
Muitas flores e verdes em montes...
Neste lugar descomunal.

Mas que lindo este lugar
Muito bom para viver
Ótimo para se morar
Num crepúsculo ao arrefecer
Cavalgando até Sonar
Até o sol nascer...
Continuando a cantar
Até amanhecer.


Ortí estava muito alegre enquanto cantava. O mago glutão se assusta enquanto seguia com seu tordilho por debaixo de alguns galhos, até que um Totim, de cabeça para baixo pendurado num dos galhos ali perto, pegara o chapéu pontudo do mago fazendo-o derrubar a caneca na carroça graças ao susto que levara.
Guimans solta um sorriso de canto de boca, aos poucos o sorriso ia se alargando até que o mago de cabelos arrepiados começara a dar altas gargalhadas com a situação em que o mago Ortí ficara, e começara a cantar junto:

De olho nos belos animais
Floresta adentra aclive abaixo.
Passando em frente a um lago...
E não a um riacho. Hahahaha...

Ortí começara a ficar irritado. Não tinha gostado nem um pouco daquele Totim ter pegado seu chapéu. O mago ficara de pé na carroça e esticava os braços querendo pegar o animal para dar-lhe uma lição e poder recuperar seu chapéu. Mas infelizmente -, para a alegria de Guimans – o mago cai sentado na carroça.
Guimans não parava com suas altas gargalhadas.
O Totim saltava de galho em galho subindo cada vez mais.
- Acha isso engraçado? – perguntara Ortí para Guimans, pois o mesmo não parava de rir.
Hannced fingiu estar com pigarro, e forçou um barulho saindo da garganta para chamar a atenção de Ortí. O mago olha para Hannced que anuía com a cabeça após uma piscadela. Ortí entendeu o que Hannced queria lhe dizer, e parara de implicar com Guimans que a pouco estava triste, e agora se alegrava. Ortí continuou a cantar:

Totim maldito muito abusado
Acha-se muito esperto brincando
Pegar-te-ei macaco dos galhos...
Seu chato e folgado
Recuperarei meu chapéu
Depois te lançarei num tonel!

Ortí via a alegria estampada no semblante de Guimans que soltava uma gargalhada atrás de outra sem cessar. Depois tampou a boca com uma das mãos. Não queria ser advertido novamente por Mensageiro das Almas.
O Totim lançara de volta o chapéu de Ortí para o próprio. O chapéu vinha na direção do mago sem que o mesmo o visse. O chapéu vindo dos ares chega à cabeça do mago glutão, e, rodopiara até parar e cobrir um pouco os olhos do mago.
Guimans ria cada vez mais. – Mas que pontaria hein? – dissera ele.
Ortí não estava mais ligando para as risadas de Guimans. Estava muito contente ao ver o sorriso estampado no rosto do mago de cabelo moicano.
Alguns minutos se passaram junto com a trilha. O mais jovem dos magos fazia exposição de seus dentes num sorriso em que ainda fazia lembrar-se da cena feita agora pouco.
Guimans ouviu um barulho. Parara de sorrir e ficara atento... Fazia um sinal para os outros, pedindo para que fizessem silencio. A mão deslizava pela bainha podendo chegar até o cabo da espada. Girava o corpo lentamente querendo observar ao redor. Quando chegara a estar em 180°, tomou um grande susto ao se deparar com um cavalo empinando e relinchando. Guimans com o susto, caiu sentado no chão com o braço erguendo a espada em direção ao cavalo negro em sua frente; - Abaixe a espada insolente! – disse Herutam ao desarmar Guimans com seu cajado fazendo a espada do mesmo ir parar longe e fincar na grama.
- Perdoe-me senhor Herutam... Eu não queria...
- Não queria, mas quase o fez! – diz o empertigado mago ao cortar as palavras de Guimans.
- Vesseu, Herutam e Mensageiro das almas. O que estão fazendo aqui? – murmurou Ortí com si mesmo.
- Meu irmão... Mas o que faz aqui? – disse Hannced não entendendo.
- Hannced... Temos que conversar. – disse Herutam apeando de seu cavalo.
- Vamos parar para descansar, pois estou com muita sede e fome. – disse Vesseu ao se aproximar.
- Oba, oba! Agora falou minha língua. – disse Ortí empolgado.
- Vamos amigos, vamos deixá-los a sós. – disse Vesseu levando os outros para um canto, onde numa pedra foram se sentar.
- Mas o que está acontecendo senhor Vesseu? – pergunta Guimans.
– O Ministro Harunem... Morreu. – balbuciara ele, meio sentido enquanto continuava a lamuriar. Ortí e Guimans estacaram.
Após um tempo detido, Guimans olhou para Hannced que estava distante junto à Herutam. Via Hannced se ajoelhar perante o irmão enquanto colocava as palmas das mãos em seu rosto triste, e, depois fazendo as mãos deslizarem pela testa até a nuca podendo jogar seus cabelos brancos para trás esticando-os em meio aos dedos. As pálpebras apertadas não deixando os olhos marejados a mostra. Lagrimas desciam no canto do rosto até se acumularem no queixo em gotejo. Herutam só assistia, não podia fazer nada, infelizmente... Acontecera.
- Bem, é hora de pararem, pois o sol já está saindo de nossas visões. Descansem e comam alguma coisa... E não se esqueçam... Sem barulho na noite... Os espíritos não vão gostar. – sussurrava Mensageiro das almas enquanto lembrava os magos.
- Quando vamos comer? Precisamos descansar para continuar a viajem. – disse Guimans.
- Concordo com você. Afinal, se não comemos não teremos forças para chegar a lugar algum. – fala Vesseu procurando um lugar para eles descansarem.
Herutam e Hannced já se aproximavam.
- Isso mesmo, vamos comer, para não nos prejudicarmos. – disse Ortí.
- Você não parou de comer até agora! – fala Guimans.
- Que isso meu caro amigo. Apenas estava... Beliscando. – disse Ortí.
Os magos olharam para o céu que vinha a enegrecer. Olhavam para o horizonte e via-se uma faixa rubra surgir após a decadência do sol dentre os montes.
Herutam olha para umas árvores bem fechadas:
- Eu acho que ali seria um bom lugar para um descanso. – disse ele se aproximando.
– Tudo bem. Vou pegar lenha para acendermos uma fogueira enquanto comermos. - disse Hannced meio triste e se afastando, queria ficar um pouco sozinho.
- Até mais! E que os Deuses estejam com vocês! – falava Mensageiro das almas enquanto cavalgava para o alto, e sumia ao atravessar uma árvore.
Todos os magos estavam tristes. Vesseu e Herutam foram contar para Ortí e Guimans, sobre a morte do legendário mago de Athór enquanto caminhavam para debaixo das árvores onde vão descansar.
Herutam ainda observava o irmão cabisbaixo.

domingo, 14 de março de 2010

CAPÍTULO 7 - Um convite muito bem vindo.





Dentro do Reino Sonaire havia um grande movimento na praça principal do vale Sonar. Muitos comerciantes com infinidades de coisas, e muita gente comprando e vendendo objetos e pertences.
Assim era o Reino Sonaire, uma grande praça em comércios e com alguns casarões para pessoas de uma classe um pouco mais alta do que a dos homens dos campos. Um gigantesco chafariz encontrava-se ao centro do Reino. Pessoas respeitosas e muito alegres. Depois de algum tempo, surgem alguns guardas à cavalo no centro da praça e dizem:
- Por ordem do Rei Heriano, estamos convocando pessoas para trabalharem nos aposentos do castelo e durante a festa do Rei.
Enquanto isso uma bela jovem estava comprando alguns pães, e ouviu o que os guardas diziam, não pensando duas vezes, largara os pães na barraca e convergira-se em direção aos guardas para ser uma das candidatas as vagas do castelo. A jovem fora empurrando todo mundo até chegar ao guarda que pasmado disse:
- Olá moça!... Não precisa tanta pressa.
- É que eu sempre quis conhecer o castelo, e outra oportunidade como essa é bem difícil. – disse ela arfante.
- Tudo bem, vamos com calma, diga-me o seu nome e em que parte do Reino você mora?
- Meu nome é Áthany e... Moro nos campos de Sonar.
O guarda pegara um pergaminho e enquanto escrevia, dizia a ela:
- Muito bem Áthany. Estamos dando oportunidades para muitos hoje. Amanha quando o sol estiver em cima da torre do castelo, você vai até o portão principal, vamos estar lá esperando por todos.
- Tudo bem, estarei lá. – disse ela com um largo sorriso em alegre semblante.
Áthany agradece ao guarda pela oportunidade e corre para dar à incrível noticia aos seus pais. Como Áthany é uma quase mulher com seus dezenove anos, não tinha quem não olhasse para a felicidade estampada em seu rosto onde o sol batia constantemente, pois trabalhar no reino é uma coisa que ela sempre quis. Sempre que podia, a jovem Áthany subia nas árvores próximas a sua morada e ficava apreciando o reino inteiro com o castelo ao fundo, sempre querendo saber como seria lá dentro. Mas o Maximo que conseguira, era chegar à cidade.
Quando Áthany estava chegando perto de sua casa, viu sentada numa das raízes de uma árvore, uma senhora cabisbaixa que nunca tinha visto por ali. Ela diminuiu a velocidade e aproximara-se da senhora.
- Ola; - A senhora precisa de alguma ajuda? – indagou Áthany.
A mesma de cabelos brancos levantara a cabeça e olhara para Áthany dizendo:
- Não minha querida, não preciso de ajuda não, só parei um pouco para descansar na sombra desta árvore.
- Ah ta... Pensei que a senhora estava precisando de alguma coisa.
- Muito obrigada... Mais uma coisa não deu para deixar passar sem me chamar a atenção. – disse a senhora pegando apanhando algumas amoras da árvore, após ter se levantado e depois se sentou em outra raiz.
- Mais o que seria? – disse Áthany.
- A sua felicidade. – responde à senhora. - O que a deixa tão feliz minha querida? – disse a senhora abocanhando uma das frutas.
- Ahhh... Estou vindo do Reino Sonaire, lá da cidade. Um dos guardas me escolhera para trabalhar na festa que o rei estará realizando amanhã, estou muito feliz por isso, nunca entrei no reino, estou muito curiosa.
- Que linda essa sua felicidade, me motivou a andar mais um pouco até em casa.
Áthany ajuda a senhora a se levantar.
- Muito obrigada minha filha, tome... – disse a senhora entregando um dos frutos para Áthany. -... que os Deuses olhem em você essa grande generosidade, e... Cuidado. Guarde essa sua felicidade porque podem roubá-la. – murmurara à senhora olhando para Áthany.
- Isso é impossível. A felicidade é algo que não para de crescer em minha alma. – disse Áthany virando as costas para a senhora voltando em direção a sua casa, pois estava cada vez mais empolgada. – Até mais! E muito obrigada! – disse ela começando a correr e degustando o fruto que ganhara agora pouco.
- Mais podem roubar sua alma. – continuava a velha senhora murmurando enquanto via a jovem menina se distanciando. A senhora de cabelos brancos, agora ficara com os mesmos grisalhos, pois não era tão velha assim. Aquela senhora era Aina, de Ejru. - Logo, Logo esta jovem estará presa em meu fascínio. – disse a feiticeira sorrindo.
Áthany corria dentre os belos campos de colheita. Seus cabelos castanhos voavam numa trança. Quando percebe a fumaça saindo de uma chaminé, já sabe que está chegando a sua casa. A jovem aumenta a velocidade, não parava de sorrir enquanto esticava as pernas em longos passos fazendo correr ainda mais rápido enquanto gritava:
- Mãe! Pai! Eu consegui!
O pai de Áthany coloca o rosto na janela. – Meu amor, abra a porta, pois estou vendo que sua filha vai derrubá-la de tão empolgada que está – disse ele.
A mãe de Áthany corre para abrir a porta. Sua filha passa como se fosse feita só de vento.
- Filha! Qual o motivo de tanta felicidade? – perguntara a mãe.
- Mãe... Você não vai acreditar... – disse a jovem toda eufórica parando um pouco para respirar. -... Eu vou trabalhar amanha dentro do Reino.
- Nossa filha! Que noticia agradável
O pai de Áthany entra na sala.
– Isso por quantas moedas? – perguntara ele.
- Pai... Ainda é cedo para saber isso, tenho que estar lá quando o sol estiver em cima da torre principal.
- Certo. Então... Parabéns, você é uma garota de sorte grande, eu acho que os Deuses estão olhando a seu favor. – disse o pai indo abraçar sua filha. – E onde estão os pães.
- Ah, pai... Peço desculpas, mas eu me empolguei e acabei esquecendo os pães.
- Tudo bem. – disse o pai em outro abraço.
– E eu também acho pai que os Deuses estão olhando ao meu favor, e vou agradecê-los na hora em que me deitar.
- Isso mesmo filha! – disse a mãe sorridente colocando os pratos na mesa, que mais pareciam cuias. – Mas antes disso venha comer, pois hoje fiz o que você mais gosta. Vamos aproveitar para comemorar.
- Não acredito!... Muito obrigada mãe. Vou tomar um banho e já venho pro jantar.
- Espere. Vou pegar água no poço pra você minha filha. – disse o pai.
- Muito obrigada pai. – Enquanto isso vou arrumar minhas coisas pra poder levar amanha.
Áthany saiu correndo para seu quarto subindo a escada de madeira. Estava muito feliz com o apoio dos pais, que, nunca interferiram em nenhuma decisão que a filha tomasse, pois sabiam que a mesma tinha responsabilidades. Ela tinha liberdade para fazer tudo que tivesse vontade. Os pais ficavam tranqüilos sabendo que moravam num lugar calmo. Todo mundo se conhecia e se respeitava. Uns ajudavam aos outros para nunca faltar pra ninguém.

segunda-feira, 8 de março de 2010

CAPÍTULO 6 - Ejru.





O vale Ejru. Conhecido como vale da morte. Fica em outra ilha mais ao sul de Athór, um lugar escuro e frio onde nenhuma alma limpa pela natureza conseguiria viver. Um lugar totalmente tomado pelo sortilégio de quem o habita. Colinas altas em neves. Árvores mortas e arbúsculos próximos às coxilhas deste lugar soturno, totalmente coberto pela geleira.
Uma senhora de cabelos grisalhos e cumpridos, jogados até o final das costas, onde estava sentada num trono, Aina era o nome desta. A feiticeira permanecia-se sentada enquanto olhava fixamente para uma bola de vidro, a mesma era iluminada por uma luz mágica tipo néon.
Um ruído feito pela porta adentrava no imenso salão em pilastras sustentando o teto. O ruído chega aos ouvidos da senhora ali sentada. A mesma levanta a cabeça convergindo seu olhar para a porta que se abria deixando o vento frio introduzir e circular pelo salão. O homem de roupas escuras que acabara de adentrar no local, dirigiu-se para próximo do trono caminhando pelo chão liso onde tudo se refletia. A senhora se levanta:
– Então. – disse ela. – Como está o velho Harunem?
- Digamos... Que ele deve estar fazendo uma visita aos Deuses dos céus. – respondera o homem de capuz na cabeça. – Minha visita em Lenólia foi um sucesso. – continuava ele enquanto levantava o braço esquerdo na altura do pescoço deixando a serpente sair da manga e deslizar pelo ombro até as costas.
- Ótimo Daknan. Então, tudo corre muito bem. – disse a feiticeira. – E onde estão os amuletos? – continuou ela ao se virar.
Daknan era um homem muito estranho, sombrio, vivia sempre com aquelas longas roupas escuras e capuz na cabeça querendo esconder o rosto. Será que seu rosto era deformado? Bom, não se sabe. A única coisa que se sabe sobre ele, é que ele é um mago negro. Não se sabia muito dele, mas que ele parecia ter muita maldade em seu sorriso barbudo... Isso ele tinha.
- Eu não os encontrei. – Não estavam com o velho. – diz o mago negro muito irritado.
- Como assim não estavam com ele! E onde estão?
- Não sei... Ele não quis dizer. – Preferiu a morte a me contar! – disse o homem baixando a cabeça fazendo com que o capuz cobrisse mais ainda seu rosto. Não estava com medo, pois não queria olhar para a feiticeira a qual tinha os olhos espectrais ardendo em chamas amareladas.
- O que vamos fazer agora... Minha mãe? – disse o homem diante da mesma.
- Devemos encontrar os outros dois amuletos que surgiram... Depois veremos o que fazer.
- Está bem... Vamos atrás destes e depois avassalaremos Lenólia.
- Só invadiremos Lenólia, após a junção dos cinco amuletos de Athór em nossas mãos. Enquanto isso... Destrua Dakron e seqüestre aqueles Dragões trazendo-os para Ejru. Comessem pelos mais velhos. Vamos vigiá-los até o final de suas vidas. Assim, ficaremos com todos os amuletos. Infelizmente temos que esperá-los morrer, a lenda diz que quanto mais velhos morrerem os Dragões, mais poderoso é o amuleto, pois se matá-los antes, os amuletos não surgem. - Reúna tropas de Tróres. Precisamos encontrar os amuletos. Enquanto isso... – disse a feiticeira convergindo-se para a sacada onde a mesma abrira as portas para a senhora passar. O homem de negro vinha atrás. – Vou fazer uma visita à Sonar. – continuara Aina agora se transformando numa bela coruja branca e voando em direção ao horizonte até Sonar.
O sinistro homem colocara as palmas de suas mãos sobre o muro baixo da sacada, a mesma era sustentada pela geleira em montes sob o lugar. Olhara para o horizonte e sorriu ao ver seus súditos montados em Dragões, se aproximando com os Górmes urrando presos em jaulas. O homem de negro olhara para baixo; - Soldado! – chamara ele, um das sentinelas que guardava o imenso portão gradeado daquele reino. – Reúna todos os Tróres da ilha... – disse ele para aquela atalaia que também era um dos Tróres. – Vasculhe cada gruta, cada um dos montes em meio a essa geleira e façam um exercito revestindo-os de armaduras. – continuava ele enquanto iniciava-se a nevasca. O Tróre tira a base de sua lança do chão e se afasta correndo deixando o outro guarda sozinho, e foi atender ao pedido do homem de negro que adentrava no salão distanciando-se da sacada.
Os Tróres eram horríveis com seus corpos magricelas, alguns meio banguelas com suas caras tortas. Os Tróres vivem em Ejru, e servem a Aina e ao homem de vestes negras. Com elmos protegendo as cabeças com apenas pouquíssimos e longos fios de cabelos, e também algumas partes de armaduras revestindo seus franzinos corpos, eles defendem o reino de Ejru com suas próprias vidas.
As gaiolas ficaram abertas. Os Górmes saíram de dentro das mesmas se espalhando pela ilha. O pequeno de cabelos negros, após soltar o rei dos Górmes, vai até a sacada montado em seu Dragão e pousa em meio à neve espalhada. Ao descer do Dragão, o pequeno adentrara no salão indo para perto do mago negro que permanecia de costas.
- E agora. O que será feito? – disse o pequeno. – E onde está à senhora Aina?
- Aina foi para Sonar. – disse o homem misterioso. – Enquanto isso... Vocês voltarão para lá, onde fica o Bosque Sombrio e capturarão mais Górmes.
- Sim senhor... meu pai. – disse o garoto pondo-se de joelhos. - Voltaremos imediatamente para lá, mas... Tem um problema.
- E o que é?
- Ao chegarmos ao Bosque Sombrio. Deparamo-nos com alguns cavaleiros do rei, que estavam em séqüito dum homem muito alambre e arrojado que sozinho conseguira acabar com muitos dos Górmes. – continuava o pequeno ao falar de Thário. – Talvez ele de trabalho.
- É mesmo. Então mate esse tal cavaleiro arrojado e quem trombar pelo caminho. – disse Daknan permanecendo de costas. – Levem também as moças do campo, pois ninguém pode desconfiar de nossos planos. Já beberam de minha poção, ao chegarem a Sonar... Nunca se recordarão do lugar onde estavam, e ninguém virá descobrir sobre nós já que o velho Harunem está morto.
Rayro não era o único filho de Daknan. Os outros dois também eram. O loiro chamava-se Danio, e o de cabelos castanhos e cumpridos era Róri. Todos os três eram magos negros também, ainda aprendizes, mas, com tempo serão como seu pai, e daí então a maldade crescerá a cada dia subindo pelas artérias até as suas mentes tomadas pelos sortilégios.



Os magos continuaram a jornada pela trilha lentamente enquanto rumavam para Sonar. Hannced ia à frente, sempre cuidara muito bem de seu cavalo. Enquanto com uma das mãos o mago segurava a rédea, a outra carinhosamente deslizava pela cerda de seu tordilho, o mago olhava para todos os lados, pois estava encantado com tamanha beleza vista na floresta. Guimans que vinha ao lado, também encantado com a beleza do lugar, o mago de cabelos arrepiados permanecia boquiaberto enquanto olhava para alguns animais raros que ele nunca chegara a ver na vida. O jovem mago se interessara muito por um deles que estava em cima de uma pedra enquanto saboreava uma maça.
– Nossa! Que animal é este? – disse Guimans ao continuar olhando.
- Se não me falha a memória, este é um Totim. – fala Ortí, também muito feliz por estar diante de um animal tão raro.
- É mesmo? E como você sabe? – perguntara Guimans.
- Quando eu era pequeno, meu pai me falava sobre os animais da floresta, e pelo visto, ele me descrevia-os muito bem, por isso tenho certeza que este é um Totim.
- Há é. – E como o velho Ortes entrava na floresta sem que os espíritos dos antigos magos pudessem expulsá-lo? – disse Guimans debochadamente.
- Meu parvo. – disse Ortí. E para variar, o mesmo enchia a caneca, mas agora era de leite. – Meu pai foi um grande mago e um excelente observador. E se você não sabe, ele também já foi um ministro, e, entrava em Lenor-Ruduer, quando quisesse. – continuava ele com a ironia enquanto tirava da cesta uma rosquinha. – Além dos animais que nós já conhecemos por conviverem conosco em Lenólia, existem também as espécies raras da floresta, dentre elas, os Totins. – Os Totims não têm pêlo algum em seu corpo magricela, sem rabo e com seus braços e pernas finos como se fossem gravetos, suas mãos e pés eram grandes e cumpridas. Os Totims andam de pé, como nós. Aliás, eles se parecem conosco pelos seus jeitos de serem, eles só não chegam a ter o nosso tamanho e aparência. Eles têm mais ou menos o tamanho de nossas pernas. Sua fisionomia chama muito a atenção, pois seus rostos vivem em tristeza, parecem até que choraram a vida inteira. Com seus olhos grandes e esbugalhados quase que saltando de seus rostos, que, também eram muito finos. Dentro de suas bocas, dentes pequenos e muito que dos bem afiados para poder triturar qualquer casco de caracol. Tinham também um nariz tão pequeno que quase não se podia ver, e, eles tinham pavor de tudo, achavam que tudo podia fazer mal a eles, menos... Os insetos e lesmas, pois eram seus alimentos. Apesar de eles serem assim e terem esse jeito, os Totims são muito dóceis, não fazem mal algum a ninguém, e, o que eles mais gostam de fazer, é se balançarem pelos galhos das imensas árvores da floresta. – terminava Ortí enquanto via aquele Totim que estava em cima da raiz mastigando um caracol, agora já subia na árvore e depois se lançava de galho em galho enquanto se distanciava. Guimans ficava cada vez mais pasmado com o que assistia.
- Isso é maravilhoso não é! – disse Hannced. – Agora teremos os mesmos privilégios que nossos pais tiveram. – continuou ele falando para Ortí. Guimans baixou a cabeça, não muito bem ao ver os outros falando dos pais, pois seu pai não foi um ministro como os deles. Ortí e Hannced perceberam que Guimans estava triste e pararam de falar...
- Olha só! São cisnes azuis ali no lago. – disse Ortí quebrando o silencio e mudando de assunto.
- Nossa que interessante! – disse Hannced se empolgando com Ortí para animar um pouco Guimans que continuava cabisbaixo.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

CAPÍTULO 5 - Morte Lamentável





Hannced ficara espantado ao deparar-se com algo sobrenatural. Guimans quando olha pra frente, se assusta; - Ooou! – gritava ele enquanto parava com o cavalo que empinava fazendo o jovem mago cair de costas no chão novamente. – Pelos Deuses! O que é isto!? – disse ele com os olhos detidos num fantasma em sua frente enquanto estava sentado no chão. O espírito flutuante se aproximara de Guimans e, com uma cara nada agradável, ele pergunta:
- Mas que baderna é essa em minha floresta?
Hannced que vinha logo atrás, apeou do cavalo após aproximar-se da ocorrência. O espírito de barba longa até a cintura, parara de levitar e tocara em solo arenoso. Ortí já chegara ao local perguntando; - O que está havendo? – Nossa!
- Podem me chamar de Mensageiro das Almas. É assim que sou conhecido, pois meu nome é difícil de pronunciar... – respondera o mago cujo mesmo era iluminado por uma luz branca sobrenatural. A expressão em seus olhos, ainda não era das mais amigáveis. – E sou um dos magos guardiões da floresta Lenor-Ruduer... – continuava ele enquanto olhava para os três. – E vocês quem são?
- Eu sou Guimans! – disse o mesmo enquanto se levantava limpando-se daquele chão e também muito entusiasmado ao se deparar com algo tão extraordinário.
- E eu sou Ortí. – disse o glutão ficando de pé em sua carroça e fazendo uma reverencia após ter dado uma mordida numa saborosa e deliciosa pêra.
- Eu sou Hannced, filho de Harunem. – disse o mago de capuz na cabeça enquanto se afastava de seu tordilho e se aproximava em mesura.
- Já imaginava quem tu eras, pois és muito parecido com teu pai. – diz o fantasma diante de Hannced.
- Conhecera meu pai? – perguntara Hannced.
- Sim. Conheci sim, há muito tempo atrás quando ele passara por aqui, indo fazer um teste para ministro em busca de algum amuleto. Ouvi falar que ele se tornara um bom ministro depois disto. O estranho... É que ele saiu daqui jovem, e, voltara mais velho... Como Vesseu e Herutam também no teste feito há muitos anos depois de Harunem, e também encontrando outros amuletos. – disse o espírito da floresta evocando. – Vesseu e seu irmão Herutam, também se tornaram ótimos ministros depois de Harunem. – continuava ele enquanto se sentava numa pedra ali próxima. – E para que servem os amuletos encontrados por eles? – continuava o Mensageiro das Almas sem entender nada.
Hannced coloca o capuz para trás das costas; - Os amuletos encontrados foram dados como testes para se tornarem ministros de Athór. – disse ele.
- Hoje em dia é assim que se tornam ministros. A cinco mil anos atrás não precisei encontrar nenhum amuleto para me tornar ministro. – disse o fantasma da floresta. Guimans estacara por um tempo, pois não sabia que os espíritos dos antigos magos da floresta Lenor-Ruduer, um dia foram todos ministros de Athór.
- Também temos que encontrá-los para não caírem em mãos erradas, pois sua mágica é descomunal. – disse Ortí após ter dado mais uma abocanhada na pêra em sua mão e também dizendo para o espírito da floresta, que, o que eles estão fazendo não é somente um simples teste.
- Então os amuletos são sobrenaturais. – disse o Mensageiro das Almas. – não era uma pergunta. Mas Guimans concluiu dizendo:
- Não sabemos muito a respeito. Só sabemos que temos que encontrá-los logo.
- Pois então muito boa sorte na busca e... Não faça muito barulho, os espíritos não gostam muito. – disse o fantasma da floresta. – E tomem cuidado com os crocodilos.
- Tudo bem. – balbuciaram baixinho, os três magos enquanto anuíram com a cabeça. Mensageiro das Almas soltava um sorriso de canto de boca enquanto desaparecia perante os três novatos magos de Lenólia.
- Crocodilos? – disse Guimans murmurando com sigo, ainda queria entender do porque o espírito tinha dito aquilo.



- Será que eles vão conseguir mais rápido que agente? – disse Vesseu montado em seu cavalo enquanto soltava um pouco de fumaça no ar após ter dado uma tragada no seu decrépito e inseparável cachimbo.
- Não, sei não... – Pra nós houve uma dificuldade. – respondera Herutam montado em seu cavalo negro. – Cada um de nós teve que fazer o teste sozinho encontrando um amuleto. Eles estão em três para encontrarem dois.
Vesseu e Herutam estavam a caminho do reino Lenoér para falarem com Harunem. Continuavam lentamente montados em seus tordilhos enquanto tragavam seus cachimbos e conversavam em meio à fumarada que saiam de suas bocas em formatos de Dragões. Olhavam ao redor e viam crianças brincando alegremente. Pararam ao lado dum vasilhame próximo aos degraus do imenso portão que dava acesso ao reino Lenoér. Ao apearem dos tordilhos. Os magos subiram os primeiros degraus do reino deixando lá fora os cavalos que se deliciavam bebendo das águas nos tonéis. Enquanto passavam para dentro do largo corredor em pilastras, eles se depararam com uma cena muito chocante. O legendário mago de Athór estava jogado no trono de um jeito que não parecia estar confortável. Vesseu e Herutam ficaram detidos por um tempo. Não acreditavam no que viam. Vesseu começara a caminhar rápido em direção à Harunem. O mago segurara em suas vestes levantando-as para poder correr e chegar mais rápido e acudir aquele que um dia foi seu mestre. Herutam saiu do transe e convergira-se em direção ao seu pai logo atrás de Vesseu. Vesseu ao subir os degraus do púlpito...
– Meu mestre o que acontecera com o senhor? – disse ele ao ver o legendário mago abrindo lentamente os olhos em agonias.
- Senhor... Vesseu... – balbuciara Harunem bem baixinho e rouco, quase que não conseguindo terminar a pronuncia em sua frase. – Já está... na hora... de tomar... o seu... posto... não acha... meu ministro... – disse o mofino Harunem não tendo forças e nem ar para falar direito.
- Meu mestre, por favor, não se esforce tanto. – diz Vesseu.
- Pai! – clamara Herutam ao se aproximar. – Você está bem?
- Meu... filho... Herutam... huro huro! – disse Harunem tossindo.
- Já disse para não se esforçar meu mestre.
- Tem gente... querendo os... amuletos de... Athór...
- Quem! Quem está querendo os amuletos meu pai?
- Herutam, não faça tantas perguntas. Precisamos levá-lo daqui imediatamente para fazer-mos alguma coisa! – disse Vesseu.
- Não; - Quero saber quem veio atrás dos amuletos e quem fez isso com meu pai. – diz Herutam começando a ficar nervoso.
- Fique calmo, primeiro precisamos salva-lo. – Vesseu colocou as mãos nos ombros de Herutam.
- Meus... ministros... – Tomem... conta... dos amuletos... como se fossem... suas... próprias vidas... – disse Harunem pegando no braço de Vesseu e trazendo-o para perto de si mesmo.
- O que foi meu mestre? – disse Vesseu. – Porque está dizendo isto?
O legendário mago de Athór colocara a mão dentro da larga manga de um dos braços de Vesseu. Ao retirar a mão, junto com esta veio um pequeno saco amarrado na ponta. Vesseu e Herutam se surpreenderam.
– Meu pai! O que é isto? – perguntara Herutam.
- Peguem... – São os amuletos... que... o maldito... não conseguira... pegar.
- Quem não conseguira pegar meu mestre? Quem!? – perguntara Vesseu. Percebera que Harunem não resistiria muito.
Harunem fechava os olhos enquanto baixava a cabeça. Sua mão que segurava o pequeno saco com os amuletos, em decadência toca o colo. Um embaraço na garganta com pigarro. O ar não chegava mais aos pulmões. Nem mais um ultimo suspiro, nada mais que a escuridão. A dor que sentia na cabeça por um tempo, agora tomava o corpo por inteiro, que, também gelava ao arrefecer. Sentia-se torturado. Tudo escuro. Tontura. Mais escuro. Sofrimento... Ao fim.
Vesseu e Herutam lamuriavam enquanto permaneciam em devoção.
– Nãaaao... (Um grito ecoava por entre os corredores do reino Lenoér). Era Herutam refutando enquanto urrava pela morte de seu insalubre pai. Vesseu baixara a cabeça e começara seu rito. Herutam se levantara e correra até a entrada do reino. – Hei. Pequeninos! – disse ele para os pequenos aprendizes de magos que estavam brincando no jardim em frente. – Chamem o velho Rirou! Falem que é urgente! – Herutam voltara correndo para perto de Vesseu. Após ter voltado, o mago segurara num dos braços de Vesseu fazendo-o levantar. – Pegue os amuletos e vamos. – disse. Precisamos avisar meu irmão e os outros sobre o ocorrido. Precisamos ajudá-los a encontrar os amuletos, pois a jornada não será fácil. – continuava Herutam levando Vesseu para fora.
- Mas...
- Não se preocupe. O velho Rirou saberá o que fazer.
Os magos saíram do reino, montaram em seus tordilhos e foram arfantes em direção da floresta Lenor-Ruduer.
Rirou chegara ao reino muito rápido, pois o mesmo morava ali perto. Ao adentrar no reino Lenoér, ele fica assustado em deparar-se com tal situação.
Os magos Herutam e Vesseu cavalgavam cada vez mais rápidos. Tinham que avisar logo aos outros. Tinham que dizer o quanto correm perigo e que tinha gente também à procura dos amuletos de Athór. Lamentavam muito a morte de Harunem, mas, não podiam fazer nada a respeito. Sabiam que o legendário mago, iria ter um tumulo digno de rei numa luxuosa caverna trancada por uma imensa pedra, e que o ministro ficaria nas lembranças de todos. Após o corpo sumir da caverna, os outros magos abrem o lugar para abençoar o espírito que se libertara.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

CAPÍTULO 4 - Uma Visita Inesperada.





Hannced e Ortí estavam com seus tordilhos na entrada da floresta esperando Guimans que já se aproximava do local. A leve brisa tocava os semblantes dos magos trazendo um cheiro agradável ao olfato. Os magos olharam estranhamente para o mago de cabelos arrepiados que vinha à cavalo.
Guimans ao chegar ao local, apeou do cavalo dizendo:
- Então. Vamos!
- Para que essas parafernálias todas. Vai para alguma guerra? – disse Ortí espantado ao ver o mago de cabelo moicano, com algum tipo de mochila nas costas, também algumas adegas e cantis pendurados na cintura.
- Trombaremos com Drórios. – Responde Guimans ao desembainhar a espada que estava pendurada na cintura. - Lembra-se! – continuava o mais jovem mago com seus ensaios, como se estivesse em combate com alguém.
- O que ele pensa que está fazendo? – balbuciara Ortí ao perguntar para Hannced.
- Não sei. Será que ficou... tresloucado? – dissera Hannced coçando a cabeça dentre o capuz que a cobria.
Guimans parara com o teatro.
– Ouvi falar que a floresta é perigosa. – disse ele. - Ouvi historias desde criança sobre a floresta. Quando eu era mais jovem, meus amigos me disseram que Lenor-Ruduer era mal assombrada. – diz ele ao abrir bem os olhos. - Diziam-me que havia fantasmas lá. Fiquei mais tranqüilo após a reunião. Pois Harunem tinha dito que na floresta habitam os espíritos dos antigos magos da floresta, e que era protegida pelos mesmos. Só assim eu me acalmei se não, meu medo aumentaria muito mais diante de tantas historias aterrorizantes. – disse ele levantando as sobrancelhas. Sabia que os magos da floresta, mesmo sendo fantasmas, não os fariam mal algum, pois eram todos da mesma raça.
Ortí sobe na carroça ligada ao seu cavalo, na mesma havia uma cesta com mantimentos coberta por um lençol. Em seguida, Hannced e Guimans, cada qual montara em seu próprio cavalo.
- Agora... Vamos à procura dos amuletos! – disse Guimans enquanto empinava com seu tordilho. Mas o mofino mago acaba caindo de costas no chão não conseguindo manter-se em cima do cavalo. Ortí soltara altas gargalhadas e Hannced soltara apenas um curto e tênue sorriso. Guimans era brincalhão, porem muito desajeitado. Com uma cara de poucos amigos por não ter gostado nem um pouco das risadas de Ortí. Guimans após se levantar do chão gemendo e com uma das mãos nas costas, sem jeito, o mago monta novamente no cavalo. – Háa..! – disse ele enquanto batia com os calcanhares na barriga do tordilho fazendo-o disparar floresta adentro. Ortí e Hannced olharam um para o outro estranhando a atitude de Guimans, rapidamente adentraram na floresta pela trilha atrás do mago de cabelos arrepiados. Guimans que ia bem rápido a frente, não tirava o sorriso largo do rosto mesmo se lembrando da queda que levara há pouco tempo atrás. Hannced o perseguia na mesma velocidade. Ortí vinha mais atrás, não parava de se balançar com sua carruagem de madeira enquanto bradava:
- Eeei... Espera um pouco! – dizia ele enquanto com uma das mãos segurava seu chapéu pontudo para que não voasse de sua cabeça.
- Vamos logo gordinho! – disse Guimans de longe e olhando pra trás.
Hannced vinha atrás de Guimans. Com os olhos fixamente na direção do mago de cabelo moicano cujo mesmo olhava pra trás enquanto zombava de Ortí.



O reino Lenoér, arquitetado em pedras e rochas, sem portas ou janelas, não era protegido por nada e ninguém. Sua entrada gigantesca e alta dava acesso ao imenso salão do reino, cujo mesmo terminava num púlpito em escadas sob um trono. O salão com pilastras enfileiradas nas laterais, cujas mesmas afastadas das paredes três metros, davam acesso às escadas onde estas terminam na parte superior do reino que ficam os quartos dos hospedes.
Harunem ao chegar ao reino, morosamente o mago sobe pelos degraus até chegar de vez em cima do púlpito, e, sentar-se em seu trono. O mago olha para a entrada do reino e vê um dos pequenos aprendizes de magos, adentrando e convergindo-se em passos lentos para o legendário mago. O pequeno aprendiz não estava sozinho, e Harunem percebera isso de longe. O aprendiz estava com uma serpente enrolada no braço direito, o réptil passava pelas costas do aprendiz, e, permanecendo com a cabeça ao lado da do pequeno de cabelos brancos.
- Como vai meu pequeno. No que eu posso lhe ajudar? – disse o mago. – Você é um dos alunos de meu filho, Hannced, não é? – perguntara Harunem ao tossir.
- Sim. Eu sou Rayro. – responde o pequeno ao se apresentar.
- Muito prazer Rayro. – Tem um animal belíssimo com sigo. Creio já ter visto pelas cercanias... – diz o mago olhando para a serpente, a mesma, instintivamente mostrava a língua.
Harunem com certeza lembrava-se daquela serpente, pois era a própria que estava na árvore próxima a pedra do lago onde houve a reunião. Rayro com suas longas vestes levantara o braço esquerdo deixando a serpente introduzir-se para dentro da manga e desaparecendo-se por completa.
- Diga-me, o que queres meu jovem? – perguntara o mago.
- O que eu quero você não pode me dar. – respondera o pequeno Rayro. O legendário Harunem toma um grande susto ao se deparar com a serpente, que, aparecera no trono e arrostava o mago que ali estava sentado. - Mas pode me ajudar. – terminara o pequeno com sua resposta.
O mago fica imóvel ao tentar se levantar e não conseguir. A serpente não parava de afrontar o mago. A mesma ficava agora com os olhos em chamas. O mago sentira-se jogado com as costas no trono enquanto cada vez mais ficava estupefato. E como se alguém arrancasse o cajado de sua mão, fez-se com que este fosse de encontro ao chão, e rolasse do púlpito degraus abaixo indo parar nos pés de Rayro. O mago olha para o pequeno e o vê com o braço esticado na sua direção e fica assustado ao ver o pequeno aprendiz se concentrando para deter-lo.
- Como pode ter tamanha força se és tão jovem?!... – disse Harunem esticado e cada vez mais preso ao trono. O mago estava surpreso, pois ninguém naquela idade era tão forte e se concentrava tão bem ao colocar em pratica uma magia. – Qual é o lobo que se esconde nessa pele de cordeiro? – Mostre-se! – bradara Harunem. O mago queria que o inimigo se identificasse. Nunca iria acreditar que era um simples aprendiz que estava diante do lendário mago de Athór.
- Pois bem, eu já não agüentava mais esses cabelos brancos. – responde Rayro ao mostrar sua verdadeira face e se transformar num homem de capuz e longas roupas escuras. – Onde estão os amuletos de Athór já encontrados. – insistira Rayro agora em outra fisionomia e forçando mais a magia contra Harunem.
- Ainda não vi seu rosto. Tire o capuz! – bradara novamente Harunem.
- Está bem meu parvo. Não achei que fosse preciso, mas já que insiste. – disse o interlocutor ao soltar um sorriso de canto de boca. – Melhor assim? – terminara ele agora colocando o capuz para trás das costas.
- Pelos Deuses! Não... – estacara Harunem ao deparar-se com tal cena.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

CAPÍTULO 3 - Os Amuletos de Athór




Hannced já conseguia ver Vesseu e Herutam dialogando com os outros magos na imensa pedra do lago, a qual quase submersa era ligada à encosta do bosque.
Poderia ouvir o silvo vindo dentre os galhos da árvore mais próxima.
- Que bom, ele já chegou. – disse Vesseu.
Hannced, chegando ao local onde se encontravam os magos reunidos, apeou do cavalo e se aproximou dizendo:
- Meu irmão Herutam. - O que acontece para estarmos reunidos aqui hoje?
- Primeiro de tudo Hannced... Tenho que lhe falar; - respondera ele em triste semblante. – Nosso pai esta morrendo. – continuara o mago colocando sua mão direita no ombro de Hannced.
- Mas... Como... – estacara por um tempo enquanto olhava para seu irmão mais velho. – Não pode ser! – diz ele refutando.
- Tenho certeza meu irmão. Ele não quer nos contar, mas posso ver nos olhos dele. – terminara Herutam baixando a cabeça.
- Muito bem meu filho. Não sabia que era tão notório... – disse Harunem ao surgir. Os magos se surpreendem ao ver o legendário mago de Athór, apoiando-se em seu cajado enquanto lentamente se aproximava. – Mas não é esse o motivo deste conselho. – Hannced novamente fica detido ao ver seu pai em tal situação.
- Pai...
- Agora não Hannced. Agora não. – diz o mago mofino, cortando as palavras de seu filho mais novo que perplexo permanecia.
- Como vai meu mestre? – dizia o sensato Vesseu colocando a mão no ombro de Hannced, lamentando e também cumprimentando Harunem.
- Vesseu! Senhor Vesseu. Esta um belo dia, você não acha meu ministro? – responde ele com outra pergunta enquanto faz uma reverencia.
- Não precisa se esforçar tanto meu mestre. – fala Vesseu ao mesmo enquanto o ajudava a ficar com o corpo ereto novamente.
- Pois faço questão ministro Vesseu. Além do mais, é você quem ficará em meu lugar.
Não longe dali, numa árvore mais próxima, uma serpente cujos olhos eram amarelados em pupilas rubras, observava os magos do galho onde estava. O que aquela serpente queria? Não parava de olhar para os magos enquanto mais em chamas ficavam seus olhos espectrais.
- Ortí; Guimans e Hannced... – diz Harunem olhando no rosto de cada qual. - Vêem Vesseu e Herutam, eles são ministros de Athór. – dissera o mago apontando para os mesmos como exemplos. - E para isso, eles fizeram testes como vocês. – continuara ele agora apontando para os outros três. - Finalmente vocês estão prontos para o ultimo teste.
- Ultimo teste? – balbuciara baixinho perguntando para si mesmo o obstinado Guimans.
- Chuuuu! Não comece com asneiras. – bradara Herutam.
- Vocês passaram por diversos ensinamentos durante bons anos, e também ensinaram outros aprendizes até os dias de hoje. – fala Harunem gesticulando com seu cajado, o qual com o passar do tempo, não estava mais imaculado e já bem surrado. – Agora terão de ir à procura dos outros dois amuletos de Athór. Daí então, vocês se tornarão ministros como Vesseu e Herutam.
- Então, a lenda sobre os amuletos é verdadeira! – exclamara Guimans, incrédulo querendo confirmar. O mais jovem mago sempre achara os amuletos um mito. Não parava de pensar coisas desconexas:
“Onde, ou com quem devem estar. – Será que sua magia é tão extraordinária com relação aos elementos da natureza. – Será que de vez em quando poderemos usar tal coisa descomunal.” – hesitava ele bem baixinho, para que o ranzinza do Herutam não chamasse sua atenção novamente.
- Em Lenoér, o reino de Lenólia, já foram deixados três amuletos da natureza, Vesseu e Herutam encontraram os últimos dois quando fizeram os testes para ministros, e o outro, fui eu quem encontrara no teste em que fiz há muitos anos atrás. – diz o mago Harunem. – Um desses amuletos já encontrados representa as águas de Athór. O outro representa o elemento vento. E também o que representa o bem e o mal das ilhas. Um dos outros dois amuletos da natureza que vocês terão de encontrar, está na famigerada ilha dos Dragões, conhecida como Dakron. E o outro está na pequena Ilha das Trevas.
- Dragões! – fala Guimans, começando a sentir uma pontinha de medo. – Mas eu nunca enfrentei um Dragão na vida.
Sem entender ficaram Ortí e Hannced, pois nunca tinham saído de Lenólia, ou sequer ouviram falar sobre uma ilha de Dragões ou trevas. Para eles, elas não eram tão famosas como Harunem falava.
- Não os enfrentarão, tampouco os machucará, o que nos interessa são os amuletos da natureza. Não quero morte e seiva sendo derramadas por animais que só querem defender seus filhotes de ignorantes como nós! – bradara Harunem.
- Mas... Diga-nos. Como os amuletos surgiram e para que eles servem? – pergunta Ortí, após ter dado mais uma golada no café, que, permanecia sempre quente em sua imensa caneca.
A serpente em espiral, enroscada e atenta estava num galho com olhos em chama e calda agitada. Olhando para Ortí em bocejo, a serpente se interessa pela pergunta do mesmo, enquanto se aproximava rastejando até a ponta do galho que projetava uma pequena sombra na imensa pedra do lago.
- Os amuletos surgem após a morte dos Dragões mais velhos de Dakron. – começa Harunem. – Os Dragões vivem milhões de anos, só que os mais velhos já estão morrendo. Os amuletos são muito poderosos, graças aos espíritos dos Dragões que habitam neles. Com a junção destes, podemos melhorar este mundo.
- Meu pai... – diz Hannced. - Acha que este mundo precisa de melhoras? – Hannced estendia as mãos e olhava para os lados, querendo mostrar a seu pai as maravilhas em sua volta.
- Com certeza meu filho. – responde Harunem erguendo suas longas sobrancelhas brancas. – És muito inteligente, e um dia descobrirá o por que.
- Mas como chegaremos à Dakron e na Ilha das Trevas, e, como vamos encontrar os amuletos? – hesitara Ortí.
- Um desses amuletos encontra-se ao norte de Dakron, no cume da montanha Nordan em final do ermo. – diz Harunem, em tom conciliatório para os futuros ministros. – E para chegarem lá, terão de atravessar a floresta Voram, que fica mais ao sul de Dakron. O amuleto que está nesta ilha, é o que representa o elemento terra. – Já o outro amuleto representa as florestas de Athór, e este se encontra na pequena Ilha das Trevas que fica do outro lado do rio do vale dos Guinous. Mais não pensem que será fácil, pois cada amuleto ao surgir, são guardados por atalaias conhecidos como Drorius, desses vocês não precisam ter dó, pois eles não terão de vocês. – continuava o legendário mago enquanto se apoiava com as duas mãos em seu cajado, evocando a primeira vez que saiu de Lenólia, para apanhar o amuleto que representa o bem e o mal das ilhas. Ortí, Guimans e Hannced anuíram com a cabeça. – Sairão daqui de nossa comarca em rumo ao reino Sonaire, no vale Sonar, que fica depois da floresta Lenor-Ruduer, vigiadas pelos espíritos dos antigos magos. Em Sonaire, vocês conhecerão o rei Heriano que lhes apresentará alguém para conduzi-los. Se tudo correr bem, voltarão nas vésperas de solstícios de verão após viajarem por searas. Vão passar pela pacata vila dos Guinous, eles são muito amigos, vão lhes aconselhar os caminhos. Foram os Guinous que me avisaram sobre os amuletos que surgiram, pois eles sabem de tudo que acontece em Athór. E eles confiam muito na gente para guardar os amuletos da natureza. Não se preocupem, após pegarem os amuletos, irão ver o quanto será benéfico. Peguem suas adegas e cantis para viagem, um pouco de alimento e o que mais acharem melhor para levar.
- Ainda bem que com Ortí como amigo, não vamos precisar nos preocupar com alimentos. – diz Guimans já entusiasmado com a viagem, e brincando com o amigo glutão.
- Que bom meus amigos. Que bom. – fala Harunem enquanto solta um sorriso de canto de boca. – E quanto a você meu filho. – continua o mesmo ao olhar para Hannced. – Quando voltar preciso que você venha conversar sobre algo muito importante comigo. – Hannced se vira após assentir. – Agora vão! O rei Heriano já esta a espera.
A serpente que estava próxima aos magos, já prosseguia indo embora.
Nirold ao chegar à pedra do lago, vê Vesseu, Harunem e Herutam. O pequeno após apear do tordilho, vai afoito até os magos dizendo:
- Ortí, Guimans e Hannced já estão chegando. – Vesseu e Harunem olharam um para o outro e sorriram enquanto Herutam meneava com a cabeça negativamente.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

CAPÍTULO 2 - O Monteiro.



Os cavaleiros de Sonar, após apearem de seus cavalos, marcham bosque adentro com uma leve viração em seus semblantes. Comedidamente, convergiram-se aclive abaixo em procura da caça. Com suas cotas de malha, elmos e couraças -, em séqüito, prosseguiam atrás de um homem que não era seu rei, porem muito hercúleo. O monteiro. Isso mesmo! É assim que os cavaleiros o apelidaram. Monteiro! O nome deste. É Thário. O arrojado de cavanhaque, cabelos compridos e amarrados, atentamente olhava para todos os lados em procura de sua caça. Thário era o único diferente de todos. Não era cavaleiro da realeza, não usava elmo, cota de malha ou couraça. Trajava-se de longas roupas presa num cinto, e também gostava muito de usar coletes, sempre de cores escuras. Thário era conhecido como monteiro por embrenhar-se atrás de sua caça, e conhecer cada canto de Sonar por peregrinar desde pequeno atrás de aventuras.
A tensão tomava conta do exército guiado pelo finório Thário. O silencio é quebrado ao escutarem os urros da caça que parecia se aproximar. Passaram próximos a um rincão ríspido pintado de um modo rústico jogado as moscas e cercado de pedriscos barrentos em meio a um pequeno lago. Alguns ficaram si perguntando se aquele lugar poderia ser um dos abrigos da caça em que procuravam. Queriam invadir. Mas no momento em que os mais velhos cavaleiros se aproximavam do lugar para poder revistar, eles acabaram se surpreendendo.
A comitiva fica detida ao ver em abundancia descendo dentre as coxilhas, muitos cães Górmes num alvoroço só. Os malditos cães saltavam de pedras em pedras até tocarem em solo arenoso, e, iam de encontro aos cavaleiros urrando ferozmente.
Os cães Górmes são uma espécie muito ruim e sombria. Moram em grutas rochosas com gotejo em poças. Grutas ascosas, adjacentes aos pés das montanhas Crisnã. Em algumas destas grutas havia muitos diamantes, era isso que deixava Thário e os cavaleiros satisfeitos, principalmente o rei, é claro. Nas grutas em que havia diamantes, os Górmes não chegavam nem perto, eles apenas as guardavam como algo muito importante. Apreciavam de longe o brilho dos diamantes. Não entravam nessas grutas por que eram sensíveis ao reluzir destas, e também porque eles eram muito grandes medindo cerca de três metros ao ficarem de pé. Cães grandes de costas largas em corcundas. Caninos grandes e afiados, cada cão com duas caldas bem peludas nas pontas.
Thário e os cavaleiros adoravam caçar os Górmes e terem diamantes como recompensa, e também adoravam apreciar a carne destes, pois era saborosa, para eles, a melhor carne que já existira, a mais suculenta e macia. Mas não era para isso que os cavaleiros estavam à procura dos Górmes. Não era para enriquecerem com diamantes ou se deliciarem com tal carne famigerada. O monteiro e os cavaleiros estavam no rastro deles, para desvendarem os desaparecimentos de algumas jovens mulheres dos campos de Sonar.
O rei suspeitava que os cães tivessem feito mal a elas e as levado para as grutas.
Thário olhara fixamente para um dos Górmes que estava parado em cima de uma das coxilhas. A fera também não parava de olhar para o monteiro. Sabia que o monteiro era destemido, foi ele quem já matara muitos Górmes. O rei dos Górmes começara a urrar. Descera da coxilha onde estava e foi em direção aos humanos.
Os Górmes adoravam a carne humana, do mesmo jeito que os humanos adoravam a deles. Mas como dificilmente aparecem humanos no Bosque Sombrio, muito menos próximo as montanhas Crisnã, os Górmes quase não conseguiam se deliciarem da carne humana. Por isso eles se alimentavam dos animais da floresta Ransor-vel, que fica ao lado do Bosque Sombrio e das montanhas Crisnã. Os Górmes saiam de suas grutas ao crepúsculo indo atrás de sua presa. Assustavam os animais da floresta com seus olhos amarelados, e surtiam bem ao se camuflarem na noite em meio o turvo com seus pêlos acinzentados.
O rei odeia os Górmes por de vez em quando assustarem os humanos, e por eles matarem e se alimentarem dos animais da floresta Ransor-vel. O rei queria dar logo cabo deles, por isso os cavaleiros são mandados junto com Thário para o Bosque Sombrio, se não, o rei iria ter que erigir uma fortificação com atalaias em altos portões, coisa que ele não queria.
Os soldados novatos da entidade, estacados pela aglomeração, começaram a reagir impetuosamente. Deixaram os passos lentos e inaudíveis pra trás, e mesmo com muito medo, foram pra cima dos Górmes sem a autorização do monteiro Thário que bradara alto pedindo pra pararem. Mesmo a voz do monteiro ecoando dentre o bosque, os novatos não deram audiência. Eram tolos de mais, queriam mostrar coragem para o rei mesmo com sua ausência. Um dos novatos agregado a mais dois confrades pestanejara muitas vezes ao se deparar com um dos Górmes se lançando de um jequitibá. Após cair em cima dos três soldados, a fera começara a devorá-los vivos. O monteiro fecha os olhos em devoção, enquanto lamuriava pelos convictos novatos da cavalaria. Thário ao ver alguns deles evadindo, começara a estrilar.
O monteiro começa a urrar para os soldados atacarem. Thário corria na direção do primeiro Górme que o atacara. As flechas dos arqueiros na retaguarda passavam por cima do alambre monteiro atingindo os cães a frente. O cão que ia de encontro à Thário, saltara ferozmente para cima do mesmo que se agacha enquanto ergue sua espada fazendo rasgar a carne do animal desde o focinho até o órgão genital. O Górme cai morto e ensangüentado atrás de Thário que se levanta com algumas gotas de sangue em seu rosto e vai de encontro a outro cão que vinha em sua direção. Desta vez, era o rei dos Górmes, que antes, afrontava o monteiro de longe. Sem que desse tempo para Thário se esquivar, a maldita fera atinge o monteiro no peito cravando suas garras e fazendo o forasteiro se afastar com o impacto. A fera investira. Ferozmente em mais um ataque o rei dos Górmes tenta. Desta vez o monteiro não vacila, segurara firmemente a espada com as duas mãos, e, num golpe, ele faz uma cicatriz cruzando a cara do animal, fazendo jorrar a seiva do mesmo para todos os lados. O rei dos cães meio cego se afasta do monteiro e consegue ajuda com outros Górmes.
Os arqueiros agora lançavam flechas em chamas que atingiam as corcundas de alguns dos cães.
Um dos novatos olha para o lado, e vê um dos veteranos da soldadesca clamando ao perder a cabeça numa abocanhada por um dos truculentos animais. Em seguida, o mesmo cavaleiro é atingido no peito sendo montado por outro Górme ávido a saciar do sangue do mesmo antes que ele atingisse o chão. O novato se sentia enjoado e estupefato ao assistir a cena, e, rezava para que a chacina acabasse logo para sair vivo. O Górme que devorava a cabeça do cavaleiro ficara de pé e inebriara-se da seiva do soldado que se acumulava no elmo.
Os outros novatos iam arfantes pra cima dos Górmes. Bradavam corajosamente com olhos marejados arrostando cada uma das feras.
O novato que assistia tudo ficava cada vez mais pálido e enjoado após ver o Górme, limpando o focinho com o antebraço, depois de se deliciar do sangue do cavaleiro no próprio elmo. Começara a vomitar ali mesmo.
Thário ficara balaustrado de Górmes que vieram ajudar o rei dos cães. Enquanto ferido e apenso a uma árvore estava. O forasteiro com o suor excessivo em seu semblante ficava cada vez mais com suas artérias fervorosas enquanto olhava nos olhos de cada fera que o circundava. Um dos truculentos cães sobe numa das raízes ariscas da gigantesca árvore. Arrostava o paladino sem trajes da realeza. O monteiro olhava nos olhos do animal, que, estava em cima da raiz enquanto soltava um largo sorriso expondo seus caninos ferinos para o forasteiro. Os Górmes almejavam a cabeça de Thário por ele matar muitos da espécie deles. Num ataque fulminante, o cão que estava em cima da raiz, lançou-se de encontro ao monteiro. Sem pensar duas vezes, instintivamente o forasteiro com sua espada decepara a cabeça do animal antes que chegasse com os dentes em seu pescoço. Acometidamente, mais dois cães saltam em direção ao monteiro, que, para se defender, sai do alinhamento de um destes fazendo-o ir de encontro à árvore que com o impacto, deixara o animal tonto enquanto o monteiro cravava a espada no peito cinzento do outro. O monteiro olha para o Górme que tinha ido de encontro à árvore. O animal não estava mais tonto, e tentou ferir Thário com suas garras. Mas não conseguira executar o golpe com caução, pois Thário com sua espada arranca a pata do Górme antes que o mesmo a erguesse totalmente. Então o Górme mancando, tenta escapar para bem longe do monteiro enquanto choramingava alto. Mas sem dar chance, um dos cavaleiros acerta a cabeça do cão com uma lança, fazendo-o se esticar no chão. O monteiro anuiu com a cabeça para o cavaleiro que acabara de matar o Górme.
Parecia que tudo estava acabando.
Felizmente, mais uma batalha ganha.
Houve perda de soldados. E por incrível que pareça, a perda maior foi de veteranos que negligenciaram suas espadas. Porem, os novatos se saíram muito bem, - não dá para saber se foi graças o terror que avassalou os corações deles... mas realmente se saíram muito bem.
Olharam para cima de um dos montes e viram três crianças, um de cabelos negros, outro de cabelos loiros e outro de cabelos castanhos e cumpridos. Todos vestidos de longas roupas pretas e montados em Dragões negros enquanto trancavam de três em três os Górmes em gigantescas gaiolas. Eram três crianças montadas em Dragões e com mais sete Dragões sozinhos.
O monteiro ficara si perguntando quem eram eles e para que prendiam os Górmes. Antes que começassem a entender, o rei dos Górmes que foi atingido por Thário na batalha, e, ficou com uma cicatriz na cara, não parava de olhar para o monteiro. Urrava ferozmente de dentro da jaula em que estava preso enquanto se distanciava indo para os céus de Sonar. O rei dos Górmes ia sozinho nesta gigantesca gaiola de ferro, e, o pequeno de cabelos negros que o levava, também não parava de olhar para o paladino.
A minoria dos Górmes fugia, e aquele turvo feito pelas flechas e lanças em chama, exalara fazendo com que aclarado permanecesse o dia.